O artificial que soa como natural

O artificial que soa como natural

Quando adolescente fui loira por um tempinho, por volta de dois anos, por aí, e recebia MUITAS críticas de alguns parentes por isso. A desculpa era que “com essas sobrancelhas grossas pretas fica muito artificial”, e eu achava engraçado porque em momento nenhum da minha vida tive a intenção de fingir que eu tinha os cabelos dourados naturalmente. Eu só queria ser assim naquele momento, sabe? Não pretendia mudar minha certidão de nascimento nem nada do tipo. Nem vou me aprofundar fato de que outras pessoas do mesmo núcleo familiar que têm mais ou menos minha idade já tiveram e têm cores de cabelos diferentes do natural e nunca receberam críticas semelhantes, é abrir uma Caixa de Pandora muito fora do nosso foco hoje… Enfim!

Isso tudo aconteceu em meados dos anos 2000, uma época em que todo mundo afinou as sobrancelhas até quase sumir, mas eu não deixei ninguém fazer isso com as minhas porque gostava delas cheionas, mesmo. Também demorei muito a aceitar que posso ser bonita usando óculos e hoje em dia faço questão de estar com eles em todas as minhas fotos e vídeos, pra compensar uma vida inteira tirando pra não “ficar feia”. Só que pra conseguir enxergar eles precisam fazer parte de mim e não tem nada de feio nisso, eu sou assim. Ao mesmo tempo não quero fingir que nasci com os cabelos mais lisos ou a boca vermelha sangue de quando passo meus batons favoritos, obviamente, mas quando penso em mim é essa imagem que me vem à cabeça. NATURALMENTE.

E aí pouco mais de 2 meses atrás pintei os cabelos de rosa, depois de muitos anos de vontade e pelo menos um semestre de planejamento. Foi isso de ter cabelo fantasia que me trouxe todas essas lembranças do “anti-artificial” porque eu JÁ estranho as minhas fotos de cabelos pretos, que é como eles foram em pelo menos uns 27 dos meus 30 anos de vida. Agora é MUITO mais fácil pra mim me enxergar rosa. E a melhor parte é que ninguém vai vir me encher o saco por causa de raiz escura, sobrancelha que não bate ou seja lá o que for porque OBVIAMENTE essa não foi uma escolha feita pensando no natural, uma vez que infelizmente as pessoas não nascem com a cabeça de cores legais assim. Inclusive o que acho lindo é justamente a artificialidade de ser da cor que mais amo na vida.

Minha melhor amiga atualmente tá ruiva, depois de muitos anos de loirice, e já que estamos passando por essa fase mais ou menos juntas sempre falamos sobre as tintas e a possibilidade mudar de novo – o que por agora é, na verdade, uma impossibilidade pra mim. Em meio a um papo aqui e outro acolá, dia desses ela me disse “Mas mesmo se eu fizer isso vai ser pra voltar pro ruivo depois porque agora é meu natural”. Eu AMEI essa fala dela, também me sinto assim, como se eu pudesse escolher o que é natural em mim. É claro que quero que TODO MUNDO tenha SEMPRE espaço pra se aceitar como é, principalmente falando de quem a sociedade mais impõe o contrário, mas que isso inclua o direito de descobrir nossos novos naturais incomuns por aí, que nem eu descobri esse meu aqui, e ser aceita assim também!

Maresia

Maresia

ler artigo

Impressionantes negligenciadas: uma crônica de Dia das Artes

ler artigo
Um ano depois…

Um ano depois…

ler artigo

Comente este post!

  • Patricia Monteiro

    Seu cabelo está lindo, continue assim, quem tem que gostar do nosso visual somos nós, não os outros. Acredito que a cor e o estilo do cabelo também expressa a personalidade, é uma forma de externar o estado de espírito do momento (acho muito show cabelos rosa, azuis, verdes e todas as cores fantasia disponíveis hoje em dia).

    responder
  • Dai Castro

    Me lembra tanto a época em que eu decidi que iria mudar o meu cabelo. A pressão da minha família foi tanta, comentários bastante desmotivadores, que por um lado me deixava muito pra baixo, mas também acabou me dando força pra seguir em frente até encontrar o ruivo que eu gostava. É o nosso natural do momento. Eu amo cabelos coloridos e diferentes! Acho que o rosa caiu como uma luva em você! <3 Um beijo!
    Dai Castro

    responder