‘Til It Happens To You…

‘Til It Happens To You…

No início do ano, Lady Gaga concorreu ao Oscar de Melhor Canção Original com a música “Til It Happens To You”, do documentário “The Hunting Ground”, que fala sobre a violência sexual em ambientes acadêmicos dos Estados Unidos. A vencedora, porém, foi “Writing’s On The Wall” e na minha humilde opinião (desculpa aí, Sam Smith, nada contra sua pessoa), foi a maior injustiça do ano. Não só acho a música da Gaga melhor como penso que uma temática importante nesse nível (e que está tão em evidência) também deve ser levada em conta na hora dessa escolha. Mas tudo bem, vida que segue, a música não deixa de ser maravilhosa por causa disso.

Para quem nunca ouviu (mas pode fazer isso agora através desse vídeo aí em baixo), é um desabafo SUPER sincero e sentimental sobre como uma vítima de estupro é tratada por aqueles que a cercam, até mesmo os que a querem bem. Ela fala sobre essa tentativa que acontece de convencer a pessoa de que vai ficar tudo bem, que um dia vai superar e esquecer o que aconteceu com ela, de que é “mais forte do que isso”… Mas isso sempre vindo de pessoas que não fazem ideia do que é sofrer um ato de violência tão abusivo e brutal. E daí vem a frase título da música: “Até que aconteça com você, você não saberá como eu me sinto.”, um pedido desesperado para que ajudem essas pessoas a viver com essa realidade sem ignorar a dor inimaginável para aqueles que nunca sentiram. E para ter uma MÍNIMA ideia de que dor é essa é só assistir ao clipe, que é pesadíssimo mas, infelizmente, muito real. Eu confesso que não dei conta de chegar ao final…

“‘Til your world burns and crashes
‘Til you’re at the end, the end of your rope
‘Til you’re standing in my shoes
I don’t wanna hear a thing from you, from you, from you
‘Cause you don’t know
‘Til it happens to you
You don’t know how I feel, how I feel.”
(fonte)

Porém esse post está aqui não somente para mostrar a mensagem que ela quis passar, mas também para DISCORDAR disso de certa forma. Aliás, discordar não: complementar! E não, não pensem que vou falar que dá pra imaginar a dor sim, muito menos criar um “sofrimentômetro” nojento para rebaixar mulheres que já sofreram com estupro (ou mesmo a tentativa dele) na vida. Muito pelo contrário, na minha opinião mesmo que aconteça com você, você não saberá como a outra pessoa se sente! Cada um reage de uma forma às injustiças absurdas que a vida trás e não existe regra… Então ainda que você tenha passado por tudo isso, por favor, não meça a dor de outra garota através da sua. Não coloque sua superação (ou mesmo a falta de) como uma meta a ser seguida por ela. Ainda que tenha acontecido com você (e eu gostaria que JAMAIS acontecesse com QUALQUER PESSOA nesse mundo) saiba que só ELA sabe realmente e profundamente como se sente, como lidar com isso, até que ponto pode chegar para seguir adiante.

“Mas isso quer dizer que não posso ajudar, não posso intervir?” – CLARO QUE NÃO! Você deve sempre ajudar, sempre estender sua mão, SEMPRE dar o apoio. Mas faça isso com toda a empatia que conseguir reunir no seu ser. Lembre do difícil processo que é enfrentar a sociedade, os julgamentos, a si própria no espelho, mesmo que nada disso devesse ser um problema. Saiba que o abuso sexual é algo hediondo quando acontece com uma garota aos 16 anos e praticado por dezenas de homens diferentes que depois a expõe ao público, mas também com mulheres que estão na rua e são abordadas por um desconhecido… Ou mesmo com esposas que não conseguem lutar contra a força de seus maridos opressores, jovens que acabam bebendo demais e atraem algum aproveitador na festa que deveriam estar curtindo, uma pré adolescente que é assediada por um parente próximo e não consegue denunciar por isso, a universitária que mudou de ideia ao sair com seu colega de sala e ele não aceitou isso muito bem. Independente do local, das circunstâncias, das companhias, da idade, da roupa, do horário e de qualquer outra coisa o estupro é asqueroso, não importa quem é a vítima ou o agressor. É crime independente de você achar certa ou errada qualquer atitude da pessoa que passou por ele. Não é sexo, fetiche ou doença: é violência, é invadir um ser humano de uma forma que nem mesmo objetos devem ser tratados, é o resultado da atitude de alguém que fecha os olhos, os ouvidos e o coração para o grito desesperado de milhares de mulheres que querem apenas ser tratadas como um igual. Todos os dias.

E aí você pensa que poderia ser sua filha, sua amiga, sua irmã e sua neta… Que poderia ser você! Mas mesmo que não seja, ainda assim é alguém. Alguém com dores e sentimentos que, não importa o que tenha feito, não merece de modo algum passar por isso. Não limite seu amor ao próximo a quem você conhece e é importante na sua vida, expanda-o para cada uma que precisa dele desesperadamente. Mesmo que você não vá receber isso de volta no momento, faça não só porque você pode precisar que façam o mesmo por você amanhã, ou porque precisou que fizessem ontem. Faça porque é o certo, porque é o necessário, faça porque HOJE muitas e muitas de nós precisam! E quanto mais nós lutarmos contra essa cultura do estupro, esse machismo nojento, menos pessoas precisarão ser ajudadas e mais pessoas verão a importância de ajudar. E quem sabe chegaremos ao ponto em que, felizmente, ninguém mais saiba exatamente como as pessoas que passam por isso se sentem simplesmente porque ninguém mais passará. Parece um sonho, eu sei, mas nada poderia ser para mim hoje mais bonito de ser sonhado…

Maresia

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Um ano depois…

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  • Jéssica || Fashion Jacket

    Adorei o seu texto. Essa história toda mexeu muito comigo.

    Beijos ?

    Jéssica || Fashion Jacket
    http://www.fashionjacket.com.br

    responder
  • Começar dizendo que concordo em gênero, número e grau acerca da premiação do Oscar desse ano. A apresentação da Gaga foi de arrepiar e a música, ainda que não estivesse atrelada ao documentário, já merecia um Oscar.

    Sobre a questão da música dizer que você não sabe como a dor do outro até que ocorra com você, realmente não sei se a ideia é dizer que todas as dores são iguais e, logo, somente entenderemos o que ocorre com o outro se tivéssemos passado por algo semelhante. Eu peguei mais no sentido de, quando se tem a dor semelhante, a empatia é mais fácil de ser assimilada. E não acho que deveria ser, é algo que falta em demasia na humanidade. Não sabemos respeitar e nem sequer empatizar. Sobre nenhuma dor ser igual eu também concordo contigo. São coisas que podemos perceber em pequenos gestos e aontecimentos do dia a dia. Às vezes algumas palavras simples são suficientes para magoar profundamente alguém enquanto para outras, aquilo é irrelevante. E tudo que acontece conosco está destinado a passar por toda nossa história, carga emocional e tudo o mais que faz parte de quem somos, para então, surtir algum efeito. Assim, claro, nenhuma dor é como a outra, nenhum sentimento é como o do outro.

    E essa percepção é só o começo para quem quer ter mais empatia, quem quer e precisa ser mais humano. Saber que o atinge o outro e o que fere o outro é somente este ‘outro’ quem vai poder dizer.

    E a barbárie que ocorreu, em que vemos tantos comentários e posicionamentos não apenas preconceituosos e machistas, ferem ainda mais porque, no fundo, você percebe que são desprovidos de humanidade. Julgam a todo o tempo sem pensar sequer um momento na humanidade da vítima, na pessoa, no ser e colocam as possíveis falhas (sem entrar no mérito pra não virar “textão”, possíveis falhas porque absolutamente nada é capaz de culpabilizar a vítima!) desta como justificativa para o injustificável, para a falta de desumanidade que está a todo momento, destruindo cada vez mais pessoas.

    Esta cada dia mais triste e difícil ser humano por aqui.

    responder
  • Mari

    Concordo com tudo e, tendo em vista os últimos acontecimentos, achei seu post certeiro!
    Beijos
    Mari

    responder
  • Adriel Christian

    oi, oi.

    essa música da Gaga realmente é forte. ela diretamente com a gente. impossível não se emocionar. <3 sobre a tua "discordância", acho válido tu ter pontuado isso: acredito que qualquer pessoa com um bom coração, sabe sim o que a outra pessoa sofreu. a gente não sente da mesma forma que a outra pessoa, mas, ao imaginarmos vivendo aquele mesmo fato, dá uma tristeza misturada com raiva… é uma mistura de sentimentos… a gente tem que se ajudar. temos que se ajudar, na vdd. todos nós podemos passar por isso um dia. infelizmente. =/

    bjs!
    Não me venha com desculpas

    responder
  • Nathália // Fashion Jacket

    Arrasou, não conheço a música da Gaga, mas assim, empatia é o que está faltando MESMO com o mundo. Bem complicado :~

    Beijinhos
    n. // http://www.fashionjacket.com.br

    responder
  • Carolina R.

    Esse assunto é muito triste, barbárie total, concordo em muitos pontos. E de fato cada um sente de um jeito…

    responder
  • kamii

    Gente, tai um tema que me deixa muito bolada com o ser humano, saber a quantidade de gente ignorante que culpa a vitima ou os caras aqui da faculdade mesmo que tão muito mais interessados em argumentar “mas nem todo homem…” me deixa com vontade de sumir da face desse planeta nojento.
    Enfim, a música da Gaga é muito boa, e concordo com você quanto a que mesmo que as pessoas se sentem diferentes frente ao mesmo problema, isso conta para qualquer tipo de problema na verdade né.

    responder
  • Clayci

    Eu achei uma injustiça ela não ter levado o prêmio, pois me emocionei com a letra e a voz dela.
    Fora que ela estava maravilhosa neste ano né? =D
    Merece todo destaque

    responder
  • Bianca

    Realmente não dá pra saber o que é passar por isso, só consigo imaginar e sei que isso não chega nem perto do que a pessoa realmente sente. Cada pessoa é única e tem um modo de reagir aos problemas e situações que acontecem então não dá pra ficar comparando mesmo. Gostei muito do post!
    Beijos

    responder
  • Natz Sodré

    Concordo com você, que não da pra saber como é a dor do próximo, mesmo que já tenhamos passado por isso, cada um reage de um jeito diferente, mas de qualquer forma, com certeza é horrível e devemos ajudar as vítimas, quando sabemos de alguma.. É muito triste isso ainda ocorrer, seja por desconhecidos, maridos, colegas de trabalho, até mesmo chefes ou seja lá o que for.. é repugnante.. E sobre a música, eu não conhecia.. vou apertar o play. Beijokas!

    responder
  • Váh

    Ótimo post!!
    Realmente isso de se colocar no lugar do outro é importantíssimo, porém só quem vive tal situação sabe o que é mesmo viver aquilo. Eu tenho sérios problemas familiares e ás vezes as pessoas de fora falam “nossa, imagino como deve ser ruim”, mas na verdade só quem tá dentro do sofrimento sabe o que é aquilo. Eu aprendi e hoje em dia me policio pra não tentar dizer “imagino” para uma outra pessoa. E também concordo quando você diz que cada pessoa lida com a superação e sofrimento de uma maneira. O que é fácil pra mim superar pra você pode ser a pior coisa do mundo.

    http://heyimwiththeband.blogspot.com.br/

    responder
  • Juliana Reis

    Oi querida!
    Primeiro: obrigada pela visita! 🙂
    Segundo: eu muito burramente, apaguei seu comentário ao invés de respondê-lo! ¬¬’ Me perdoe!
    Terceiro: Excelente post! Embora esse assunto esteja super em evidencia agora por causa da noticia da semana passada, infelizmente esse é um assunto que assombra principalmente as mulheres desde os primórdios da humanidade e acho que infelizmente vai levar um tempo ainda pra acabar – SE um dia acabar – mas se não lutarmos a favor do término desse crime absurdo, mesmo que isso soe um tanto utópico, aí que as coisas não vão melhorar nunca! Você faz certo em sonhar. Todos nós que queremos mudanças fazemos. Só não podemos deixar de lutar!
    Não vou conseguir ver o clipe agora pois estou no trabalho ~oohhh que lindo, heim? visitando blogs no horario de trabalho! XD ~Mas assim que der assistirei.
    A única coisa que tenho adizer é que de fato nunca sabemos como o outro se sente, até que passemos pela mesma situação e mesmo assim não sentiremos a mesma coisa por sermos outra pessoa. Mas uma coisa que ouvi certa vez, quando mais nova, e desde então passei a usar é a seguinte frase: “Não sei o que você passou, nem como se sente agora ou se sentiu na hora.. tambem não faço a menor ideia, nem sequer posso imaginar. A única coisa que sei é que não gostaria que acontecesse comigo, mas se acontecesse, gostaria que fizessem/dissessem ‘assim, assim, assado’ por mim.” *Daí você faz/fala com a pessoa o que gostaria que fizessem/falassem com você, na esperança de fazê-la se sentir um pouco melhor.* 🙂
    Bjus ;*

    responder
  • Sthefanny Maciel

    Confesso que também não tive coragem de terminar o vídeo e me sinto muito mal por isso. Eu sei que essa é a realidade de algumas (muitas) mulheres e que a sociedade na maioria das vezes julgam as mulheres que sofreram qualquer tipo de abuso e as culpam por terem sido abusadas. Até que ponto a nossa sociedade pode chegar né? Eu, antes de qualquer coisa me coloco no lugar de quem quer que seja, fulana, ciclana, beltrana. E muitas vezes o que mais machuca são os olhares e não as palavras!
    Amei o post!

    Cá entre nós, miga! ?

    responder
  • hellz

    Esse clipe, essa música, essa mulher… AI AI AI. Sou little monster mesmo e até meio suspeita pra falar HAHAHA

    também achei uma injustiça enooooooorme ela não ter levado o Oscar pra casa. Aquele live do próprio Oscar foi épico!

    E sim… as vezes muito me irrita o fato das pessoas quererem competir quem sofreu mais, quem sentiu mais, quem tá mais ferrado… gente, não existe nada que possa medir sofrimento, como você mesma disse. Cada mente age de uma forma as coisas e, enquanto pequenas coisas podem afetar enormemente alguém, outras pessoas podem levar de maneira mais suave.

    Bendita seja a hora que Til it happens to you foi composta

    beijo
    beinghellz.com

    responder