Roger Waters – This is Not a Drill em Belo Horizonte

Roger Waters – This is Not a Drill em Belo Horizonte

Já faz algum tempo que considero Pink Floyd minha banda favorita. O amor foi começando devagarzinho, com três singelas músicas no MP3 player na época do colégio, e evoluiu muito quando a escolhi como principal parte da trilha sonora do meu primeiro livro… Sem eu perceber esses britânicos se tornaram meu top 1, os artistas mais ouvidos no Spotify todo ano. Sei que é o tipo de música que não atrai todo mundo, com seus solos gigantescos e letras super políticas, mas é isto, ‘tô no primeiro time da batalha “AMO ou ODEIO”. E depois de perder shows de alguns dos membros ao longo dos anos, inclusive do próprio, foi uma alegria enorme pra mim conseguir comprar os ingressos pro show da turnê This is Not a Drill em Belo Horizonte e, enfim, ver e ouvir o incrível Roger Waters ao vivaço no Mineirão em novembro.

Palco do show visto da plateia, onde Roger Waters encontra-se ao centro, quanse imperceptível por causa da distância, e o telão atrás do mesmo está vermelho com os dizeres RESIST FASCISM.

Momento do show onde a palavra AMOR aparece ao telão em diversas línguas, com as cores do arco-íris.

Uma coisa que precisamos falar sobre Roger Waters: ele é um gringo MUITO diferenciado. Ter o gosto musical girando muito em torno de homens mais velhos, esses “figurões” do rock, me faz ter que fechar os olhos pras (pequenas) besteiras que alguns deles falam por aí… Claro que em casos extremos a admiração acaba, né, mas não dá, quando o assunto é nortista nem adianta esperar muita consciência de classe. Com ele, porém, é diferente, todo o discurso ativista do Pink Floyd veio dali! Ele já começa o show pedindo que quem curte a banda mas não suporta seu posicionamento político espere no bar, ou seja, o homem não tá com tempo nenhum pra papinho de que ele vai perder fã por ter “virado esquerdista”, como se isso tivesse acontecido semana passada. É direto e reto, sem medo de ser feliz!

Foto que mostro Roger Waters no telão, com muitas luzes claras ao seu redor, tocando uma guitarra.

Intervalo do show onde uma ovelha gigante inflável sobrevoou a plateia.

Liberdade palestina, direitos humanos, violência policial, ativismo LGBTQIA+, misoginia, racismo em diversas instâncias… Ele aborda de tudo, o tempo todo, da mesma forma que fez ao longo desses 60 anos(!) de carreira. Assim como nos seus álbuns, o show está ali pra contar histórias: dele, do Pink Floyd, do mundo, mesmo. Os textos vão passando no telão para introduzir cada apresentação, que vai muito além do música-e-luzes de sempre. “This is Not a Drill” é uma performance artística! Já rola um “RESIST FASCISM” de todo tamanho cercado de pirotecnia de cara, bem no início! Ele até faz intervalo, pois é um velhinho consciente, nesse meio tempo tem ovelha e porco de “Animals” sobrevoando a plateia lembrando que todo mundo também está sendo jogado no muro… Se até um branco cis-hétero rico como ele sofre rejeição aqui e ali, imagina o resto de nós, sabe?

Foto do show em que Roger Waters aparece no telão, sendo visível em frente à sua imagem. Nesse momento, ele canta In The Flesh sentado em uma cadeira de rodas, amarrado em uma camisa de força.

“Now that one in the spotlight,
He don’t look right to me:
Get him up against the wall!”
(In The Flesh – Pink Floyd)

Eu sou uma pessoa MUITO da narrativa, então assistir uma apresentação musical com essa vibe foi bem forte e impactante. Quando tocou “Wish You Were Here”, por exemplo, quase não consegui pensar que estava ouvindo “minha música”. Chorei, muito, mas não só por mim, era por ele! Ele, que junto com o amigo realizou o sonho de ter uma banda influente, uma banda que trazia essas narrativas que importavam pra eles, e que teve que assisti-lo perdendo sua luz e sua vida graças a um colapso mental. Quando, antes do refrão, apareceu o texto falando do dia em que “o rosto de Syd (Barrett) se apagou”, poxa, foi de desestabilizar qualquer um! Era um clímax atrás do outro, teve Roger cantando amarrado em camisa de força, teve o estádio INTEIRO tomado por arco-íris “saindo” de prismas, teve voz rouca de tanto cantar, mãos doendo de tanto aplaudir!

Palco na música Brain Damage, com grandes prismas no palco e luzes das cores do arco-íris saindo em direção à plateia

Fotos de duas pessoas, meu pai e eu, sorrindo para a câmera, usando blusas idênticas onde o prisma de Pink Floyd, um feixo de luz se transformando em um arco-íris, termina com os Ursinhos Carinhosos saindo das cores.

Prisma esse que estava presente nas mais diversas variações possíveis em camisetas da plateia, claro! Teve prisma-cerveja, prisma-vinho, prisma-clássico, prisma-gay e, por que não(?), PRISMA URSINHOS CARINHOSOS nos looks combinantes que eu e papai usamos! Em 2013, quando minha mãe estava prestes a completar 50 anos, eu e minha irmã demos pra ela ingressos pro show do Elton John que aconteceu no Mineirão (o dia mais incrível da minha vida). Agora veio Roger Waters se apresentando por lá 10 dias antes do papai completar 61, ainda dava tempo de ser nosso presente de seis décadas, né? Foi meu companheiro desse momento memorável, o “melhor presente possível”, nas palavras do próprio. Não basta o alívio de admirar o artista certo, eu tenho a sorte de ter pais conscientes também. É, não era um treinamento, era real, e estávamos lá pra provar!

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  • Fernanda Rodrigues

    Luly, que post mais lindo!
    Eu amo quando as pessoas vão a shows e trazem todos os detalhes pra gente. 🙂
    Gosto do Roger também (carinhosamente chamado por aqui de Rogério Águas uahahaha). Queria ter ido ao show, mas os ingressos foram vendidos na mesma época que algum outro que eu tbm queria ver (acho que foi o do Paul) e acabou não dando (queria ter nascido rica). Eu fico feliz demais que você teve a experiência de ver alguém que inspira tanto a sua arte quanto a sua vida num geral!
    Ir a shows assim sempre nos renova no fôlego, não é?
    Que 2024 te traga mais momentos assim.
    Um beijo :*

    responder
  • Fernanda Rodrigues

    Luly, que post mais lindo!
    Eu amo quando as pessoas vão a shows e trazem todos os detalhes pra gente. 🙂
    Gosto do Roger também (carinhosamente chamado por aqui de Rogério Águas uahahaha). Queria ter ido ao show, mas os ingressos foram vendidos na mesma época que algum outro que eu tbm queria ver (acho que foi o do Paul) e acabou não dando (queria ter nascido rica). Eu fico feliz demais que você teve a experiência de ver alguém que inspira tanto a sua arte quanto a sua vida num geral!
    Ir a shows assim sempre nos renova no fôlego, não é?
    Que 2024 te traga mais momentos assim.
    Um beijo :*

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  • Aline

    Oi Luly,
    Eu gosto de Pink Floyd, não chego a ser fã, mas gosto das poucas músicas que conheço e também admiro muito o posicionamento dos integrantes da banda. É muito bom poder acompanhar artistas que não ficam em cima do muro e nem apoiam coisas que vão contra nossos valores.
    Eu adoro post de show, porque é uma experiência tão difícil de colocar em palavras (eu fui em alguns shows ano passado e não consigo descrever o que vivi).
    Também achei muito massa que você divide essas experiências com seus pais! Essas memórias são únicas. Adorei as camisetas de vocês, aliás.

    Um abraço!!
    Aline

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  • Laura Nolasco – A Menina da Janela

    Oi Luly!
    Há quanto tempo não te dou um oi! Tava num post em outro blog e te vi por lá nos comentários e vim matar a saudade, além de te incluir de novo no meu feedly porque em algum momento parei de receber as atualizações e acabei não percebendo!
    Que sonho ter ido nesse show! Pink Floyd não é uma banda que ouço tanto na rotina, mas com certeza admiro muito, principalmente pelas letras. E o posicionamento político é a cereja do bolo, né?
    Adorei o post!
    Abraços!

    responder