Era apenas uma estrela sozinha, no meio do céu escuro, como se tivesse sido largada ali depois que as outras apagaram. Fui acordada pela minha insônia diária da madrugada e, pela janela, dei de cara com ela. Nem era a mais brilhante que já vi, mas naquela noite a única capaz de existir. Peguei o celular, tentei fotografar e nada. A lente, baixa resolução ou minha posição, alguém se recusou a registrar o que meus olhos viam. Nesse fracasso momentâneo, entendi que algumas coisas não são para caber em telas. Fiquei ali deitada, olhando enquanto ela me olhava de volta, o tempo passando devagar. Esperei o sono voltar, ele não veio, como sempre, e lutei contra a vontade de pegar o telefone mais uma vez.
O azul-marinho do céu começou a desbotar devagar, como se fosse tinta diluída em água. Minuto a minuto, o horizonte clareava, e a estrela, teimosa, parecia lutar contra o esquecimento. Tentava brilhar mais forte, como se pudesse vencer o sol, mas foi inútil. Aos poucos, sua luz apagou, abraçada pela manhã que chegava, e quando finalmente consegui dormir de novo, até a marca do seu brilho já era história.
À tarde, no mesmo dia, sentei em um banco de praça, onde os ipês cor de rosa transformavam o período de frio leve na minha cor favorita. O céu, agora tão claro, sem nenhum astro visível, me fez levantar o rosto e me perguntar em que direção dele teria brilhado aquela única estrela da madrugada? Pensei no tempo da luz, nos anos que ela percorreu para chegar até mim. Talvez centenas, talvez milhares! Impressionante como elas insistem em nos alcançar ultrapassando a barreira do tempo. Percebi o quão poético é esse atraso: olhar para algo desaparecido, e que causa brilho no olhar de quem contempla. O vento bateu no meu rosto, gentil, e fechei os olhos por dois segundinhos. Não cheguei a nenhuma conclusão, não precisava. Gostei da experiência como ela foi, um instante transformado em palavras, como tudo vira pra mim.
Esse post foi inspirado na proposta #59 do Creative Writing Prompts, que oferece mais de trezentas ideias legais para desenvolver sua escrita criativa. É o 25º entre os 30 que me propus a escrever até julho de 2020, já passou faz tempo, mas o objetivo continua!

