#TBT Exposição “Sob o raiar da Aurora”, de Ayla de Oliveira

#TBT Exposição “Sob o raiar da Aurora”, de Ayla de Oliveira

Como parte do seu processo de começo de representação pela Mitre Galeria, Ayla de Oliveira teve em suas mãos a missão de abrir o calendário do espaço ano passado com a solo “Sob o raiar da Aurora”, que continha não só suas obras mais recentes, mas também trabalhos anteriores que datavam até 2019… Não parece muito distante, mas dentro da sua carreira, tendo ela 26 anos na época, é um tempo longo de produção, né? Com pinturas de pequeno formato, a partir de 16 x 22 cm, que aumentavam até atingir um metro de altura, ela preencheu as duas áreas expositivas da galeria com crenças ao retratar rituais, símbolos e pessoas que pertencem à umbanda, sua religião, usando uma variedade belíssima de cores vivas e traços figurativos que, por mais que pareçam simples de longe, demonstram grande complexibilidade ao ser apreciados de perto.

“Como tal, vê-se constituído em um meticuloso ‘jogo de oposição’ – como expresso pela artista – entre momentos decorativos (de detalhes e zonas tonais mais planificadas que adornam as composições) e momentos de ‘realismo visual’ (em que a busca pela representação confere às composições uma carga mais densa). Neste jogo, diferentes velaturas são sobrepostas, progressivamente conferindo luz, sombra, textura e volume à representação de formas que, mais tarde, se tornarão elementos equiparadamente reais e simbólicos.” – Ana Clara Simões Lopes

Pintura de Ayla de Oliveira representando uma mesa com toalha quadriculada marrom e bege. Sobre a mesa há uma caneca esmaltada branca com borda azul, escrita ‘Vovó’, com uma colher dentro; uma caixa de fósforos da marca Olho; um cinzeiro marrom com bitucas de cigarro; uma marmita de louça com tampa e um pão francês. Ao fundo, detalhes de grama e céu azul.

Pintura de um pilão com socador e um pote com folhas verdes, sobre um pano amarelo claro. Ao fundo, fundo azul com pequenas estrelas desenhadas ao redor da composição.

É claro que a narrativa tem força no trabalho, e ela é um chave na arte contemporânea de modo geral, mas falar de suas obras pede que falemos no primor técnico que ela tem, fruto de um domínio impressionante de materiais diversos. Ayla transita entre pintura a óleo, encáustica e uma técnica que combina óleo com pasta de cera, criando texturas e acabamentos bem particulares. Seu uso do óleo é particular: ela manipula diluentes pouco usuais para que a camada de tinta fique mais fina e menos brilhante. Às vezes, há presença também de grandes áreas de folha de ouro, que ajuda no visual sagrado delas. Outro aspecto que chama atenção é a perspectiva, guiada pelo que quer comunicar, ainda que isso desafie a lógica espacial tradicional. É como se cada plano da imagem se organizasse do seu jeito, sem se limitar ao resto, mas mantendo harmonia.

Pintura de meio melão amarelo com uma fita amarrada em laço sobre ele. O melão está sobre a grama, com pequenas flores brancas ao redor, e fundo azul.

Pintura de uma cesta com frutas sobre um pano azul claro e verde, enfeitado com um laço laranja. Na cesta, há uma maçã vermelha, uma laranja, dois limões, uma banana descascada e uma fruta cortada ao meio, possivelmente um mamão. O fundo é verde com pequenas flores brancas.

Pintura de uma composição de alimentos sobre um pano claro. Ao centro, uma abóbora grande, cercada por milho verde, coco verde, fatias de melancia, manga, melão, cacho de uvas verdes e flores. O fundo é verde, com folhagens desenhadas.

Durante a montagem da exposição, Ayla mediou a mostra para a equipe da galeria, compartilhando com generosidade os significados por trás das obras, suas escolhas formais e os contextos simbólicos que atravessam sua produção. Isso foi super importante para construir as mediações que realizei depois! Outro momento extremamente enriquecedor foi a manhã e tarde de abertura, em que esteve presente ao lado da autora do texto curatorial para conduzir um bate-papo com o público, e ali protagonizou algo bem além de uma conversa informal: foi uma verdadeira aula sobre pintura. Com domínio técnico e sensibilidade, falou sobre materiais, métodos, referências, intenções e até preferências particulares, com uma clareza que revelava tanto seu conhecimento quanto sua consciência sobre si mesma como artista. Foi um prazer imenso poder trabalhar com ela, e mais ainda conhecê-la para além do ambiente profissional, porque essa garota é, além de talentosa, uma querida!

Dentro de uma galeria de arte, duas mulheres estão sentadas em um banco de madeira, conduzindo uma conversa ou roda de conversa. A mulher à esquerda usa um vestido claro estampado, enquanto a da direita, Ayla de Oliveira, veste um vestido marrom. Elas estão de frente para o público, composto por pessoas sentadas no chão, ouvindo atentamente. Ao fundo, em paredes brancas, estão expostas três obras de arte, com composições que incluem jarros, figuras humanas e elementos da natureza.

Bate-papo com Ana Clara e Ayla durante a abertura.

Em uma galeria de arte, uma mulher de cabelos longos e rosa, usando um macaquinho marrom com estampa floral clara, conversa com um homem de cabelos grisalhos e camisa social clara. Eles estão de perfil, voltados um para o outro, e a mulher segura um copo de Coca-Cola. Ao fundo, duas pinturas coloridas estão expostas na parede branca, ambas representando jarros em tons terrosos com elementos decorativos ao redor.

Mediando a exposição para o primeiro visitante a chegar na abertura (no caso, o meu papai).

Uma mulher de cabelo rosa está guiando uma visita em uma galeria de arte. Ela veste uma blusa rosa vibrante sem mangas, calça preta e sapatilha preta. Está de lado, fazendo um gesto com a mão, enquanto fala para um grupo de pessoas que a observa. Ao fundo, há três pinturas nas paredes brancas: uma ao lado dela com três mulheres representadas, uma pintura pequena ao fundo, e outra maior do lado direito, que mostra uma composição com frutas. A galeria é bem iluminada, com piso de cimento queimado e uma grande vitrine de vidro ao fundo, por onde dá para ver a rua. As pessoas estão em pé, prestando atenção, muitas segurando papéis, bolsas ou celulares. A maioria veste roupas claras, com destaque para branco e bege.

Mediação agendada com grupo de visitantes mulheres.

Sobre Ayla de Oliveira e Ana Clara Simões Lopes

Ayla de Oliveira vive e trabalha no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu em 1997. Tem bacharelado em Pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ e experiência nas áreas de moda e pintura em cavalete. Além de “Sob o raiar da Aurora”, participou também da exposição solo “Encanto”, no Bacorejo, diversas coletivas e foi destaque em alguns leilões de arte. Você pode acompanhá-la pelo Instagram @ayladeoliveira_. Ana Clara Simões Lopes atua na área de curadoria e escrita curatorial em arte, é historiadora da arte formada pela UERJ e, apesar de se auto denominar “cronicamente off line”, divulga novidades sobre seu trabalho no perfil @anaclarasimoeslopes.


Esse post faz parte do projeto Vênus em Arte, um canal no Youtube e podcast onde ensino história da arte através de mulheres artistas!

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