Um pintor que aposta em técnicas clássicas ao retratar cenas contemporâneas em estética modernista… Diego Mouro é um acontecimento quando o assunto é óleo sobre tela! Também professor de pintura, ele tem um domínio incrível desse material em diversos sentidos, entre eles o uso de luz, sombra e cor para dar a sensação de momento e movimento… Quem já assistiu às minhas aulas no Vênus em Arte sabe onde quero chegar, né? Sim, as referências impressionistas são super fortes no seu trabalho, e ele contribui para os estudos do estilo resgatando artistas negros que fizeram parte dele, e que seguem sendo negligenciados pela história da arte. Nem preciso dizer, então, o quão é marcante pra mim que a última exposição da qual participei trabalhando na Mitre Galeria foi sua solo “e também as flores”, que abriu em outubro do ano passado e foi formada 100% de boas qualidades.
“Fiel à técnica – óleo sobre tela – com que vem firmando seu nome na arte brasileira contemporânea e ao propósito de seguir alheio aos modismos que imperam aqui, ali e acolá, Diego Mouro toca com firme delicadeza o mistério da vida e comparte com a gente o que viu e ouviu em suas conversas com as pessoas humanas e com as pessoas flores retratadas em seus quadros. Para quem só agora tem a alegria de se aproximar do universo criativo desse artista de quem muito ainda se ouvirá falar, esta mostra é um promissor ponto de partida. Como grafou Arthur Bispo do Rosário em um de seus estandartes, ‘Vos desejo uma excelente viagem’.” – Ricardo Aleixo
O Diego vem do muralismo e começou a explorar óleo ainda nos grafites, porque gostava muito do efeito que tinha sobre a tela e sentia que queria algo parecido. A partir daí, migrou para a pintura de cavalete e nunca parou! Nessa exposição ele trabalhou com a interseção da religiosidade de sua família, católica, com a própria, umbandista, através da devoção por Nossa Senhora do Rosário dos Congados e Reinados, uma tradição especialmente forte em Minas Gerais. Com trabalhos em diversos formatos e dimensões, ele apresentou altar, estandarte, guarda, tambores, procissão, cores, rei, rainha e também, e principalmente, AS FLORES! Afinal, elas estão presentes nos processos espirituais das mais diversas religiões. Por isso, se tornaram ali protagonistas, e ele aproveitou do fato que as recebe semanalmente para criar cenas de observação maravilhosas.


Confira o texto completo e fotos das vistas na página da exposição!
Entre elas, se destacam as lembas, flores de seis pétalas que simbolizam a Vida em algumas regiões da África… Elas estão presentes em detalhes, rendas e principalmente em uma pintura toda sua, destaque no segundo (e menor) espaço expositivo da galeria, onde aparecem em tons avermelhados intercalando-se com velas. A ideia é que ali fosse como um altar de lembas, mesmo, um ambiente sagrado. Seguindo a mesma linha de pensamento, o azul aparece em diversas imagens porque, para o artista, tudo o que estivesse nessa cor, deveria ser considerado sacro, graças à associação ao manto de Nossa Senhora. São simbolismos fortes que foram enfatizados para o público durante o período de visitação através da mediação, explicando a poética e ajudando a levar para dentro das telas quem está de fora.



Para completar, a exposição contou com colaboração da Rainha Isabel Casimira da Guarda de Moçambique Treze de Maio de Nossa Senhora do Rosário e o Boi da Manta do Concórdia. Conhecida como Rainha Belinha, ela é hoje uma das coroadas há mais tempo no Brasil, o que fez com que Diego a representasse em um dos trabalhos. Ao ser contactada, a rainha permitiu que sua guarda produzisse algumas bandeirinhas, em cores significativas para o artista, que decoravam o tento do altar de lembas e foram instaladas por nós, da equipe, com todas as recomendações. Além disso, no dia da abertura, ela esteve pessoalmente lá para um bate papo, seguido d’uma apresentação do Boi desse que é o bairro considerado maior polo de religiões de matriz africana de Belo Horizonte. A abertura perfeita para o que acabou sendo o fechamento dessa linda etapa da minha vida!
Veja mais detalhes no vídeo postado no Instagram Reels.

Bate papo na abertura com Diego Mouro e a Rainha Belinha

Saída do Boi da Manta do Concórdia, após sua apresentação no centro do espaço expositivo
Sobre Diego Mouro e Ricardo Aleixo
Diego Mouro vive e trabalha no São Paulo, mas nasceu em São Bernardo, no ABC Paulista, em 1988. Artista autodidata, estuda a formação e a resistência afro diaspórica brasileira em sua paleta leve que já foi exibida não só no Brasil, mas também África do Sul, França e México. Além de “Sob o raiar da Aurora”, participou da exposição solo “Povoada”, no Museu Afro-Brasil Emanuel Araújo, além diversas coletivas e feiras de arte. Você pode acompanhá-lo pelo diegomouro.com.br e Instagram @diego.mouro. Ricardo Aleixo é poeta, artista visual, músico e produtor cultural. Com diversos livro publicados desde 1992, foi imortalizado pela Academia Mineira de Letras no primeiro semestre de 2024, onde ocupa a 31ª cadeira. Para ver mais de seu trabalho, é só seguir no Instagram @ricardoaleixoakavulgo.


Bruna
Que bacana conhecer esse trabalho e exposição, gostei muito do post!