Exposição “O Som Que Ressoa em Mim Foi Meu Ancestral Que Tocou”, no IEPHA

Exposição “O Som Que Ressoa em Mim Foi Meu Ancestral Que Tocou”, no IEPHA

Como parte da celebração do O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que foi no último dia 25, abriu hoje no Prédio Verde do IEPHA/MG a exposição Sobre Tons: O Som Que Ressoa em Mim Foi Meu Ancestral Que Tocou, uma coletiva de mulheres artistas que fazia parte da mostra “Sobre Tons”, aberta no primeiro semestre desse ano nas galerias da CâmeraSete. Através de bordados, fotografias e videoperformances, a ancestralidade apresentada de forma não-linear e a espiritualidade de pessoas pretas convida quem visita a um reflexão interna sobre como esses aspectos passados também refletem e refletirão do futuro de quem se vê ali representado.

Instalação

Nos bordados apresentados por Massuelen Cristina, a memória familiar se entrelaça com a história coletiva de tantas mulheres pretas que fizeram do gesto manual um ato de resistência e de cuidado. Natural de Sabará, a artista transita entre performance, pintura, audiovisual e instalação. No fio bordado que reencontra a força de sua linhagem como neta lavadeira e filha bordadeira em linguagem simbólica. O gesto repetido de costurar sobre a juta, herdado dessas mulheres, torna-se aqui um modo de girar símbolos e signos que emergem da relação entre corpo e território. Assim, a obra de Massu, que também é gestora cultural, professora e escritora, se coloca como encruzilhada entre tradição e experimentação, afirmando a presença de sua matrilinearidade como eixo vital da criação. Cara, sou muito fã do trabalho dessa mulher, e tenho MUITO orgulho de ter uma obra dela na minha curadoria da exposição maa, em 2023…

A imagem mostra uma instalação artística composta por cinco grandes painéis de tecido cru pendurados verticalmente, lado a lado, em uma parede cinza. Cada painel apresenta bordados coloridos com formas geométricas, setas e ondas, criando um visual simbólico e abstrato. No primeiro painel, à esquerda, há três estrelas bordadas em amarelo, linhas onduladas azuis e duas setas vermelhas com penas pretas nas extremidades. O segundo painel traz linhas onduladas vermelhas, uma seta verde apontando para a direita e uma meia-lua amarela. O terceiro painel exibe uma grande seta marrom vertical com um arco semicircular no topo e uma seta dupla horizontal vermelha na base. O quarto painel tem linhas onduladas coloridas (vermelho, azul, verde e marrom) e pequenas setas direcionais. O quinto e último painel mostra uma seta vermelha no topo e linhas onduladas cinza na parte inferior. No chão, na frente dos painéis, há um conjunto de galhos secos espalhados, adicionando textura à composição. A iluminação da sala é feita por spots de teto.

A imagem mostra um close-up dos painéis de tecido cru bordados que aparecem na foto anterior da exposição O Som Que Ressoa em Mim Foi Meu Ancestral Que Tocou. São quatro dos cinco painéis, vistos mais de perto, revelando melhor os detalhes das texturas e dos pontos de bordado.

Fotografia

Em suas fotos, Aziza Eduarda faz da imagem espaço de afeto. De prática artística plural e autodidata, natural de Contagem, também na região metropolitana de Belo Horizonte, no seu gesto de registrar corpos e presenças negras, ela encontra a força poética. Em seus grupos de imagens, vemos famílias reunidas em rituais cotidianos de cuidado, encontros à beira d’água, o pôr do sol iluminando pessoas vestidas de branco, em composições que evocam as temáticas propostas da exposição. Ao organizar as fotografias em conjuntos narrativos, a artista cria arquivos vivos que realmente preservam memórias e projetam futuros, revelando a construção de uma comunidade. Suas cenas são ao mesmo tempo celebração, luta e invenção; e é justamente essa fusão que transforma cada fotografia em um ato de retomada de poder sobre a própria história.

A imagem mostra um conjunto de quatro fotografias expostas lado a lado na parede, emolduradas em preto. As fotos retratam um grupo de pessoas negras, majoritariamente mulheres e crianças, reunidas à beira de um rio ou mar durante o pôr do sol. Todas usam roupas brancas, evocando referências a tradições afro-brasileiras e rituais de ancestralidade. Na fotografia superior esquerda, uma mulher segura um recipiente enquanto outra, sentada, sorri, e uma criança está entre elas. Na imagem superior direita, o grupo se posiciona diante da água, algumas pessoas seguram crianças e outras gesticulam, com o céu alaranjado ao fundo. A foto inferior esquerda mostra um enquadramento mais aberto, revelando a paisagem com o pôr do sol intenso, enquanto as pessoas interagem sobre uma toalha branca estendida no chão. Na fotografia inferior direita, o contra-luz acentua as silhuetas e as texturas das roupas, destacando a delicadeza do gesto de uma mulher que segura um bebê.

A imagem mostra uma parede expositiva com duas seções de 3 fotografias cada. No conjunto da esquerda, a maior, na parte inferior, retrata várias pessoas negras, majoritariamente mulheres e crianças, reunidas, vestindo roupas brancas, evocando rituais de matriz africana. Acima, uma foto vertical mostra uma pessoa negra com colares e flores, posicionada diante de uma grade, olhando para baixo. Abaixo, outra imagem menor mostra duas pessoas, também de branco, tocando as testas uma na outra num gesto de afeto ou bênção. Já no conjunto da direita, a principal, maior e central, retrata uma pessoa negra de pele retinta, com o tronco nu e um pano branco na cabeça, segurando uma folha grande de bananeira, em um enquadramento delicado e contemplativo. Acima, uma fotografia em preto e branco mostra duas pessoas ajoelhadas frente a frente, em um gesto de conexão e devoção. Abaixo, outra imagem em preto e branco captura uma pessoa submersa na água, criando uma atmosfera silenciosa e introspectiva.

Vídeo-performance

Ao lado do texto curatorial está o vídeo de Suellen Sampaio, Virginia Dandara e Laiza Lamara, uma obra que reafirma a relação entre o corpo negro e o território mineiro como espaço de memória, sagrado e pertencimento. Nas imagens, o movimento dialoga com a água, o tambor pulsa e o sorriso que atravessa a performance revela um estado de efervescência e de celebração da ancestralidade. O gesto cotidiano ganha potência ritual e afirma a presença do patrimônio cultural negro em Minas Gerais. Suellen é produtora cultural e coreógrafa, desenvolve projetos voltados à dança afro e à preparação corporal, criando atravessamentos do ser e da experiência. Virginia, artista do audiovisual, atua na direção criativa e de fotografia, trazendo o olhar sensível que estrutura a narrativa visual. Já Laiza é percussionista e regente, sustenta no tambor condensando história e resistência coletiva.

Tela de TV exibindo um vídeo da exposição O Som Que Ressoa em Mim Foi Meu Ancestral Que Tocou. A imagem apresenta a silhueta de uma pessoa de costas, em primeiro plano, usando uma blusa de alças brancas, diante de um rio iluminado pela luz do sol. A cena é capturada no momento em que o sol se põe ou nasce, criando um brilho azulado intenso que reflete na água e contrasta com a vegetação escura no horizonte.

No centro de uma tela de TV, uma pessoa está ajoelhada e inclinada para frente, tocando o chão com as mãos, enquanto outra pessoa, parcialmente visível, está sentada atrás, tocando um tambor vermelho. A cena acontece em um píer de madeira sobre um rio, com casas, coqueiros e céu azul ao fundo. A iluminação é intensa e as cores são vibrantes.

Sobre a curadora

A curadoria de “O Som Que Ressoa em Mim Foi Meu Ancestral Que Tocou” é de Alinne Damasceno, graduanda em Museologia, atuando com escrita curatorial, produção cultural e pesquisa. Ela é membra do grupo de pesquisa Estopim: Teorias e Metodologias de Curadoria de Exposição da UFMG e do Laboratório de Curadoria de Exposições Bisi Silva. A exposição está aberta até dia 28 de agosto.

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  • Mailla

    Que interessante essa matéria que acabei de ler, até compartilhei no meu Facebook. https://topflix.ia.br/

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  • no, i’m not a human ??? ??

    Adorei a leitura! Que curadoria rica e cheia de energia negra! Fico com o traseiro arregalado só lendo sobre Aziza, Massu e Suellen com seus corpos, rituais e sabedoria. As fotos que Aziza Eduarda capta são um convite à festa da vida, não dá pra não se sentir bem! E Massu bordando é um deleite visual e cultural, uma lindona homenagem à linhagem. Suellen com o video-performance é pura efervescência mineira! Que beleza de saber que essa conexão corpo-território-ancestral está sendo celebrada com tanta criatividade. A curadora Alinne Damasceno escolheu bem! Exposição que faz a gente sentir a força viva da cultura negra. Um show!no, i’m not a human ??? ??

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