Meus highlights na 36ª Bienal de São Paulo

Meus highlights na 36ª Bienal de São Paulo

A 36ª Bienal de São Paulo: Nem todo viandante anda estradas — Da humanidade como prática abriu dia 6 de setembro, e foi com MUITA alegria que pude visitá-la na véspera, em uma pré-abertura destinada a convidados e trabalhadores da arte. A Bienal de São Paulo é o maior circuito de arte contemporânea do Hemisfério Sul global, um dos maiores do mundo, e tem seu título dessa edição tirado de um poema de Conceição Evaristo. Ela acontece em seu pavilhão, no Ibirapuera, dividida em 6 capítulos que abordam macrotemas, como meio ambiente, humanidades e relações decoloniais… Uma mega exposição de 3 andares, com mais de 110 artistas! Sim, é uma obra de arte composta de obras de arte, e vim hoje trazer meus highlights desse evento lindo, divididos entre Top 3, as que mais AMEI, e outras 10 que merecem destaque, mas não coloquei em “ordem”.

Antes de começar, preciso fazer duas observações… Primeiramente, eu tinha um planejamento de produção de conteúdo pra esse dia que, de cara, não deu certo… Isso me desestruturou um pouco e acabei fazendo os registros sem pensar muito no que faria com eles depois, então minhas fotos estão TODAS na vertical. Normalmente adapto para colocar aqui no blog na horizontal, ou no máximo formato 1:1, mas nesse caso ia perder super a qualidade, me desculpem pela gafe, vai ficar assim mesmo. “Segundamente”, por ter participado da palestra de abertura da Cinémathèque Afrique, que faz parte da programação, junto da Gabi (que conheci no ônibus de viagem, arrastei pro evento e ela topou, doidinhas!), tivemos acesso pelo 3º andar e visitei seguindo caminho contrário, começando do final e terminando no começo. Não sei se mudou minha visão da visita, se sim, a informação foi dada!

Nádia Taquary

Duas esculturas em bronze dialogam frente a frente — à esquerda, uma figura feminina com traços humanos segura uma cabaça metálica; à direita, uma figura com corpo emplumado e cabeça de carneiro. Atrás delas, uma grande instalação feita de fios grossos amarelos desce do teto como raízes luminosas, preenchendo o espaço e trazendo textura vibrante à cena.

Ìrókó: A árvore cósmica (2025) é uma instalação de Nádia Taquary, indiscutivelmente minha obra favorita nessa Bienal. Com esculturas em bronze representando as entidades femininas Ìyámis em volta de uma gameleira formada de fios de contas. As figuras têm tamanho real e são belíssimas, com uma riqueza imensa de detalhes sem precisar de variedade de cores. Estou apaixonada!

Laure Prouvost

Instalação suspensa no vão livre do Pavilhão da Bienal, composta por tecidos translúcidos cor-de-rosa pendendo do teto em ondas, entrelaçados a estruturas de cobre e plantas vivas. A luz natural atravessa as camadas de tule e cria um efeito etéreo. No fundo, o espaço modernista do edifício com mezaninos brancos e visitantes observando as obras.

Hipnotizante! Essa é a palavra para descrever Flow, Flower: Bloom!, que foi desenvolvida por Laure Prouvost para compor o vão central do pavilhão. Uma obra cinética que apresente uma trepadeira que transforma em movimento o tecido fluido iluminado por dentro que pende dela. A obra foi inspirada no poema de Conceição Evaristo que dá título ao evento, o que a torna ainda mais especial…

Ana Raylander Mártis dos Anjos

Vista de uma instalação composta por longos troncos verticais apoiados no chão e no teto do prédio da Bienal de São Paulo. As peças, cobertas por tecidos ou fibras em tons terrosos e esbranquiçados, formam uma espécie de floresta fragmentada dentro do espaço expositivo. Ao fundo, pessoas caminham entre as obras, cercadas por paredes verdes e luz suave.

Eu fiquei MUITO feliz quando vi no Instagram que a Ana Raylander estaria nessa Bienal! Ela não só é alguém que conheço pessoalmente do circuito das artes de BH, mas também que adoro o trabalho! Em A casa de Bené, a Ana usou os resquícios da casa do seu bisavô para construir uma estrutura que homenageia a destreza do próprio, ocupando TODOS os andares com a instalação que “atravessa” o chão, criando continuidade. É muito legal vê-la de perto em “lotes”, mas mais ainda visualizar pelo vão do prédio e enxergar o todo, incrível demais!

Veja mais no vídeo criado para o Instagram Reels!

Christopher Cozier

Conjunto de bandeirolas triangulares suspensas no teto, formando uma instalação aérea colorida. Cada bandeira apresenta desenhos e colagens diversas — armas, animais, formas abstratas e manchas de tinta — em tons de marrom, verde, preto, branco e vermelho. As bandeirolas estão presas por fios metálicos, criando um emaranhado visual que ocupa todo o espaço superior da sala.

After the Appeal Will Come the Next Delivery me prendeu de cara! Sendo bem sincera, fui atraída pelas cores, que me causaram a impressão imediata (e errada) de se referir à situação da Palestina, mas pesquisando sobre o Christopher Cozier fiquei super admirada com como ele usou as bandeirolas para retratar partidas de críquete, discutindo as tomadas de decisão de jogos de poder que dominam as relações humanas. Dá vontade de ficar ali olhando uma por uma, viu.

Moisés Patricio

Instalação formada por grandes estruturas sinuosas, cobertas por crochês coloridos em listras vibrantes de vermelho, azul, verde, amarelo e branco. As formas lembram serpentes ou tentáculos espalhados pelo chão do pavilhão, criando um ambiente lúdico e têxtil. Ao fundo, o corrimão branco e as colunas do edifício complementam a cena.

Usando cerâmicas devocionais do candomblé, como as quartinhas e tipo diferentes de vasos, de ponto de apoio, Moisés Patrício cria linhas de movimento de cimento que parecem fluidas, mas não são. Essa dualidade demonstra a presença da população afro-brasileira, que mesmo sendo uma grande força na construção do nosso país em diversos aspectos, segue sendo invisibilizada. A obra Onde nos alinhamos – caminhos de Mestre Didi é forte não só na narrativa, mas também na estética, com suas cores que fazem os olhos de quem passa por ela brilhar.

Juliana dos Santos

Painéis verticais de grandes dimensões exibem superfícies pintadas com manchas e respingos em tons de azul, lilás e rosa claro, formando uma textura etérea e difusa. A obra ocupa o espaço central da galeria da Bienal.

Em exposição com uma individual belíssima na Pinacoteca do Estado de São Paulo, que se conecta perfeitamente com o trabalho da Bienal, Juliana dos Santos explora flores, azuis e a vivência afrodiaspórica no Brasil. Com colaboração de sua mãe, Eliana de Oliveira, Sopro/aragem/viração deixa a visão tão curiosa que é difícil, até pra mim, segurar a vontade de tocá-la, e mesmo sem essa possibilidade ela te abraça de tal forma que se torna imersiva, ainda para quem permanece fora.

Precious Okoyomon

Instalação que recria uma paisagem natural dentro do pavilhão da Bienal de São Paulo. O espaço é coberto por terra, musgos, pedras e pequenas plantas, com um arbusto florido de flores alaranjadas no centro. A composição lembra um jardim ou ecossistema em miniatura, contrastando com a arquitetura moderna e branca do prédio, visível ao fundo através das amplas janelas envidraçadas.

É exatamente ISSO AQUI que eu espero ver quando penso em uma grande Bienal de arte, meus amores! Localizada na entrada do evento, Sun of Consciousness. God Blow Thru Me – Love Break Me, de Precious Okoyomon, é tão preciosa quanto o nome de sua autora… Um bioma do cerrado, com solo, plantas, luzes, pedras, fumaça, poças d’água e até um pequeno lago te faz esquecer que está na maior selva de pedra do país. Sim, ela está em tamanho natural, a gente entra, anda, sobe, tem medo de escorregar, descobre e até sai dali a espalhando pra todo lado, com a terra grudada nos sapatos. Por causa da minha inversão acidental, o que deveria ser o primeiro impacto acabou virando último, mas valeu a pena cada segundo!

Marlene Almeida

Instalação de grande escala composta por longas tiras verticais de tecido ou material maleável em tons terrosos — marrom, ocre, laranja, bege e vermelho — pendendo do teto e se espalhando pelo chão como raízes. Ao redor das tiras, há pedras dispostas sobre discos metálicos circulares, criando um conjunto que remete à força da natureza e à ancestralidade. O ambiente é amplo, com piso de cimento e divisórias translúcidas em verde-água ao fundo.

Terra viva, da Marlene Almeida, é o resultado da junção de 50 anos de prática artística, uma vida vinda da Paraíba e sua formação em Filosofia, ao abordar o solo nessa pintura expandida. O meio ambiente é um dos principais macrotemas das artes em 2025, presente nas pequenas mostras e em grandes instituições culturais. Aqui, Marlene entrelaça sua prática com a ciência através de mostras vegetais e minerais dos solos brasileiros.

Leiko Ikemura

Duas pinturas verticais lado a lado, expostas em uma parede de tom ocre. Ambas retratam figuras femininas em traços difusos e cores suaves, com predominância de tons escuros e rosados. A figura da esquerda parece nua, com um pano rosa nas mãos; a da direita veste algo vermelho e encara o chão. As pinceladas e o efeito de desfoque criam uma atmosfera etérea e introspectiva.

Diretamente do Japão para a Bienal de São Paulo, Leiko Ikemura trouxe nesse ano a série Girls, que, apesar de ter aquele ar “fofinho” das garotas japoneses, quebram um pouco essa estética ao se apresentar de maneira espectral e difusa. As pinturas dela saem completamente QUALQUER ideal de feminino que se espera ver em imagens, sabe? Não são sensuais ou recatadas, inocentes ou poderosas, submissas ou ativistas: apenas são, o que as torna muito especiais. Amei demais esse ar fantasmagórico delas porque está inserido num contexto também não ligado ao sobrenatural, realmente é o que é e ponto final!

Gê Viana

Instalação com uma grande estrutura retangular composta por caixas de som e painéis fotográficos, emoldurada por uma moldura vermelha e parcialmente coberta por um tecido de vinil vermelho. À direita, uma tela exibe uma colagem com figuras históricas e um enorme lagarto pintado sobre a cena. Ao fundo, cortinas de tecido azul translúcido descem do teto, contrastando com a luz natural que entra pelas janelas amplas do pavilhão.

Quando o pessoal da Lima Galeria me contou, em segredo, que Gê Viana estaria nessa Bienal, fiquei muito feliz! Acompanho o trabalho dela através dessa representação com muito carinho nos últimos anos e acho uma das maiores potências artísticas que temos no Brasil hoje. Além disso, a Gê é a primeira mulher do Maranhão a participar do evento, super marco, né? A colheita de Dan é uma obra gigante, que aborda o reggae maranhense como símbolo de resistência das comunidades afro-indígenas da região.

Manauara Clandestina

Composição fotográfica exibindo retratos em preto e branco de rostos humanos em close, intercalados com pequenas fotos coloridas no formato de Polaroid. Os rostos são mostrados de diferentes ângulos, destacando expressões e detalhes como olhos, pele e cabelos. As Polaroids menores mostram cenas casuais e pessoas em ambientes diversos. O fundo metálico reflete levemente a luz, adicionando textura à montagem.

A multilinguagem de TRANSCLANDESTINA 3020 demandou parceria com profissionais da música, moda e cinema, tamanha sua potência. Manauara Clandestina traz, nessa obra comissionada, algo que visa futuro, onde os padrões cisgêneros deixam de ser regra e passam a ser possibilidade, afinal, tudo nessa vida é possibilidade! Além da instalação fotográfica, que conta com tecido, texto, metal e vídeo, a artista teve também uma performance na abertura do evento, dia 6 de setembro porque, sim, ela não tem limites, e ainda bem!

Ruth Ige

Grande instalação no pavilhão da Bienal, composta por tecidos pintados em tons de azul, pendurados verticalmente e estendidos pelo chão. As telas trazem figuras humanas estilizadas e formas orgânicas, com pinceladas expressivas e áreas pontilhadas de branco. A luz do teto reflete nos tecidos, criando brilhos e texturas que evocam movimento e profundidade.

O trabalho da Ruth Ige é encantador! O conjunto de peças que forma For Time Is the Witness of Humanity tem um ar sagrado, você sente necessidade de pedir permissão mentalmente antes de entrar nos limites, sabe? Acho que é a predominância do azul, ou o aspecto visual das figuras, ou os dois, não sei (!), só sei que queria deitar diante delas e ficar ali, admirando, sem ver o tempo passar e me sentir abençoada, assim…

Por fim, quero falar da obra Portals to Submerged Worlds, do zimbabuense Moffat Takadiwa, que registrei somente por vídeo e não consegui expressar sua magnitude com captura de tela, como fiz com a da Ana Raylander acima (e ficou horrível). Ele trouxe uma construção arquitetônica de elementos têxteis e de uso cotidiano, como tampas de garrafa, cabeças de escovas de dente e outros tipos de dejetos recicláveis que, aqui, formam um bioma interativo, onde é possível entrar. É muito fascinante a sensação de pisar nos mais variados pisos que ele cria e de não saber para onde estamos indo, ainda que a gente saiba estar dentro de um lugar fechado. Recomendo muito viver isso, e toda a experiência de modo geral. A 36ª Bienal de São Paulo está aberta no Pavilhão da Bienal, dentro do Parque Ibirapuera, de terça a domingo, com entrada gratuita, até 11 de janeiro de 2026.

#TBT Exposição “e também as flores”, de Diego Mouro

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  • Bruna

    Amei as exposições!!! Achei que tivesse perdido mas pelo que vi no site deles rola até janeiro, né?! Vou tentar dar um pulo lá pra conhecer também! (Não entendi se o lorem ipsum foi proposital, mas me tirou uma risadinha pq faço isso direto no meu trabalho kkk)

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    • Luly Lage

      Meu Deus, Bruna, foi sem querer, acredita? hahahaha
      Eu devo ter clicado em Publicar o post sem querer antes de terminar e deu no que deu, e o pior é que os assinante do blog receberam esse Lorem Ipsum por e-mail, ai, ai, ai…
      Já estou corrigindo, mas o que importa é: espero que você consiga ir! Tá linda a Bienal e sim, fica até janeiro!

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  • Daninha

    Eu achei esse jardinzinho uma coisa de louco de tão bonito!!

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  • Valéria

    Não acho um problema as fotos estarem na vertical não, ficaram ótimas 😉
    E uaaaal essa bienal e essas exposições todas devem ser incríveis!
    Achei todas muito grandiosas, deve ser sido uma experiência muito legal ?

    https://www.heyimwiththeband.com.br/

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