Se você se interessa por artes visuais, á ouviu falar de Rembrandt. O cara é um dos maiores nomes não só do século XVII, mas de toda a história da arte! A gente não faz ideia, porém, como é estar na presença de uma obra dele até acontecer… E, por aqui, aconteceu! A exposição Rembrandt – o mestre da luz e da sombra, com curadoria de Luca Baroni, reúne 69 gravuras originais do artista e, após deixar o Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro, chegou em Belo Horizonte no fim de novembro, ocupando a Casa Fiat de Cultura. A mostra convida o público a um encontro íntimo com a obra gráfica do holandês, exigindo proximidade, atenção e tempo para perceber como luz e sombra, representadas através do gesto, e não da cor, constroem narrativas profundas mesmo em suportes de dimensões muito reduzidas.


Laudos de conservação: meu papel na exposição!
Esperei pela abertura dessa exposição desde que foi anunciada, mas alguns dias antes tudo ficou ainda mais forte quando fui chamada para fazer os laudos de conservação dela. A conservação-restauração de papel foi uma escolha que fiz muito cedo na faculdade, aos 18 anos. Mais tarde, abri mão de pesquisar tinta ferrogálica no TCC para restaurar o tipo de obra que mais tinha aprendido a amar ali dentro, a gravura em metal. Vocês imaginam como foi pra mim laudar 69 obras de um dos maiores gravuristas da história da arte, ser a primeira pessoa na minha cidade a pegar nelas? Acho que passei mais tempo admirando do que mapeando degradações realmente. Eu tinha prometido que a partir desse ano que trabalho e prazer não seriam mais sinônimos pra mim, mas nesse me permiti misturar, sim, é um dos ápices dessa minha vida profissional tão diversa!


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Divino
Todas as obras que integram a exposição pertencem a uma coleção particular, administrada pela The Art Co. de Pésaro, na Itália, e se dividem em eixos temáticos, sendo o primeiro deles o Divino. Esse momento evidencia um aspecto central da produção de Rembrandt: sua religiosidade e o interesse recorrente pelas narrativas bíblicas, uma vez que era de fé protestante. Longe de idealizar figuras sagradas, o artista explorou a essência de Jesus e de outros personagens bíblicos como humanos que, de fato, eram. Em gravuras memoráveis como A Descida da Cruz (1633), A Ressurreição de Lázaro (1632) e A Morte da Virgem (1639), o visual se constrói sem muito drama espiritual, mas sempre impressionando pelo contraste de claro e escuro, o que é reforçado pela expografia, onde a iluminação é extremamente localizada sobre as obras, pedindo cuidado ao visitante ao transitar, principalmente porque está ficando bem cheia!


Humano
No eixo dedicado ao Humano, ele volta seu olhar para pessoas comuns, nem sempre se condicionando à imagem de quem possuía poder econômico para encomendar imagens. A seleção inclui diversos auto retratos, sozinho e junto a outros, com destaque para Autorretrato com Saskia (1636), uma das mais famosas dessa curadoria, O conjunto data de 1629 a 1665 e representam cerca de 25% de toda a sua produção gráfica… É um recorte bastante significativo! Muitas dessas obras são super pequenininhas, a menor delas tem o tamanho aproximado de um selo, o que torna a quantidade de detalhes extremamente impressionante. Por causa disso, as visitas demandam do público aproximação, e as mediadoras da exposição carregam lupas disponíveis aos visitantes, permitindo um estudo atento das soluções técnicas. Usei uma deles, inclusive, durante os laudos, e como disse usei muito mais para ver as linhas do que manchinhas em si…


Espaço imersivo
A experiência se expande em um vídeo explicativo que está no centro da galeria e no eixo imersivo, onde parte da produção ganha movimento por meio de edição digital. As gravuras são projetadas em grande escala em uma parede curva, criando um vídeo contínuo onde as personagens se transformam em rápidas animações. O espaço conta com poltronas e bancos, então é bem gostosinho sentar e ficar assistindo, identificando as cenas que foram vistas nas salas anteriores. Na saída, o percurso se completa com uma seleção de livros que aprofundam temas da mostra, uma atividade prática que convida o público a criar imagens “gravadas” a partir de carimbos, e uma linha do tempo da trajetória do artista. É imperdível de verdade, uma super oportunidade de consumir o melhor da arte de todo o mundo de forma acessível e gratuita.

Sobre Rembrandt van Rijn
Rembrandt van Rijn (1606–1669) é um daqueles artistas que ultrapassam as barreiras do tempo. Pintor e gravurista holandês, ficou conhecido como mestre absoluto do claro-escuro por conseguir expressa-lo não só na pintura, mas também através da gravura em metal, sem necessidade de cores, sendo considerado um dos maiores artistas europeus de todos os tempos. Sua obra aborda temas bíblicos, retratos e cenas do cotidiano sem filtros, incluindo as imperfeições dos rostos ao seu redor. Apesar de ter alcançado notoriedade já na juventude, tendo inclusive atuado na educação artística de grandes outros nomes da época, enfrentou no fim de sua vida dificuldades financeiras e pessoais, sendo tão relevante para os Países Baixos naquele momento que recebeu apoios oficiais e de sua comunidade. Em 1906, a casa onde morou por 21 anos em Amsterdã foi transformada no Museu Rembrandt, ainda em funcionamento.
Como visitar
Rembrandt – o mestre da luz e da sombra está aberta no 3º andar da Casa Fiat de Cultura, localizada na Praça da Liberdade, s/n, Belo Horizonte, entre 25 de novembro de 2025 e 25 de janeiro de 2026. O funcionamento é de terça a sexta-feira, das 10h às 21h, e sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h, com entrada gratuita. Após a temporada em Belo Horizonte, a exposição segue para o Palácio Anchieta, em Vitória (ES).


RENATA P MONTENEGRO
eu amei essa exposição, saí fascinada quando teve aqui no RJ! muito legal saber como foi sua participação nos laudos!