Cerca de um mês após sua abertura, a exposição “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil” passou a sofrer ataques de uma dupla de vereadores de Belo Horizonte, alegando que as obras que envolvem nudez (sem qualquer tipo de insinuação erótica ou sexual) são inapropriadas para a classificação livre por seu teor supostamente vulgar e “grotesco”. Em 10 de outubro, foi determinado que a visitação deve ser limitada a maiores de 18 anos, impedindo crianças e adolescentes de usufruir das ações educativas e visitas mediadas. Em nota, o CCBB BH afirma que a montagem está de acordo com o Guia Prático de Artes Visuais do Ministério da Justiça, publicado em 2021, mostrando que a decisão é (mais) uma mostra do embate dessa classe política contra as artes brasileiras. (fonte)
A década de 1980 teve, em suas artes visuais, uma exposição coletiva icônica no Parque Lage chamada “Como vai você, Geração 80?”, marcando o surgimento de um processo artístico mais subjetivo aqui no nosso país. Em diálogo com ela, está em itinerância no Centro Cultural Banco do Brasil “Fullgás”, que traz artistas da mostra de 84 e outros, tentando adicionar trabalhos de fora do eixo Rio-São Paulo, totalizando mais de 200 nomes. Contendo obras produzidas entre o fim da década anterior e o início da seguinte, ela traz um projeto que conta com pintura, escultura, fotografia, zines, instalações, revistas, vídeo, enfim, o céu é o limite! A música da época é a cereja do bolo nessa homenagem, presente no título e nos nomes dos cinco eixos que abordam temas variados e muito relevantes do período — e eu trouxe cada uma delas também, para colocar vocês no clima!
Veja um vídeo curto com recortes dessa exposição no Instagram Reels.
Que país é este
Impossível pensar em anos 80 sem lembrar automaticamente do declínio da ditadura militar e do processo de redemocratização brasileira, né? Através da letra do Legião Urbana, que critica a política abordando corrupção, impunidade, desigualdade, exploração social e a desvalorização da identidade nacional, temas esses que seguem relevantes mais de 40 anos depois, as galerias de entrada trazem cenas de movimentos sociais, revistas, zines e demais materiais onde a arte de protesto está em evidência. Símbolos antifascistas e anarquistas aparecem em diversos locais, assim como a desconstrução de figuras de autoridade e apologia à música, importante ferramenta de resistência do período.


Diversões eletrônicas
Uma visão alegre de “futurismo retrô”, através de avanços tecnológicos que pareciam andar rápido demais para serem alcançados e consolidação da popularização da televisão, trazendo eternos heróis nacionais como Ayrton Senna, Xuxa Meneghel, a TV Cultura, o fusca e marcas tão poderosas que substituem o nome dos produtos que vendem. E não pensem que é só a “telinha” que tem vez aqui, não! Aparelhos de som, de vitrolas a rádios portáteis, eletrodomésticos, telefones, diversos elementos da cultura de consumo em massa preenchem as obras das salas, levando à reflexão sobre como estamos ainda mais eletrônicos hoje em dia, cada vez nos distanciando da possibilidade de acompanhar essa realidade.



Marco Paulo Rolla, A batedeira, 1990. Acrílica e colagem de outdoor sobre tela.
Beat acelerado
Cores, muitas cores, cores para todos os lados! Afinal, não é nisso que pensamos quando precisamos fazer um visual caricato da década? Elas não estavam presentes só nas roupas, mas também na produção artística e nas amizades. Eita, como assim? Bom, com a possibilidade da libertação sexual, amores foram se tornando diversos, até mesmo efêmeros, criando mais possibilidades de relacionamento, e refletindo até nas paixões platônicas! Os ídolos adorados podiam mudar do dia pra noite com a globalização nos bombardeando de novos rostos vindo de fora, parecendo cada vez mais próximos e tangíveis. O relógio andava na mesma velocidade, mas parecia, de fato, estar acelerando.


Edgard de Souza, Bagos pom-pom, 1992. Pelúcia e cordas

Ciro Cozzolino, Dois Coqueiros, 1992. Acrílica sobre tela
Pássaros na garganta
Com todas essas questões em relação ao acesso à informação, à necessidade de consumo e às interações humanas, sabemos que existe uma palavra forte por trás: o capitalismo! E esse sistema traz, necessariamente, uma preocupação absurda com o meio ambiente, que é devastado pelo próprio diariamente. A devastação gera o alerta, e com isso os artistas passam a expressar o tema em seu trabalho nas mais diversas técnicas e formas de abstração. Uma coisa MUITO LEGAL sobre Fullgás é que existem obras táteis e descrições auditivas para pessoas cegas e de baixa visão, sou alucinada por esse tipo de inclusão.


Aurea Katsuren, Por uma identidade ameríndia, 1987. Acrílica sobre linho
O tempo não para
“Eu vejo o futuro repetir o passado / Eu vejo um museu de grandes novidades / O tempo não para / Não para, não para”… A mensagem final que o último eixo traz é incômoda quando pensamos que tudo que é criticado e levantado ali continua válido no presente, inclusive o tema de encerramento: a efemeridade da existência. A epidemia da AIDS, que atingiu o próprio autor da música, Cazuza, e mudança radical no cenário do câncer, que passou a causar mais mortes de forma a intensificar a conscientização da sociedade em relação às suas causas, principalmente o tabagismo… Um fechamento melancólico e pertinente sobre a realidade eterna de que a vida segue, seja pro bem ou pro mal.


Wilson Piran, Miragem, déc. de 1980 – 2021. Glitter sobre madeira, 15,5 x 59 x 1,5 cm

Geórgia Kyriakakis, Formiguinhas, 1989. Papel, verniz e arame
Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil tem curadoria de Raphael Fonseca, Amanda Tavares e Tálisson Melo e está aberta no 3º andar CCBB BH, com acesso gratuito, até 10 de novembro, de quarta a segunda-feira, das 10 às 22h. No pátio subsolo do centro cultural há também instalações imersivas e decorativas com outros trabalhos e elementos da década retratada. A exposição conta com mais de 300 obras de arte em uma variedade absurda de suportes, então sugiro ir com tempo para visitar com calma, ler os textos e absorver as mensagens.


football bros unblocked
Essa exposição parece dar uma lição de história com um toque de eita, como é isso! que só a vida real da época dá. Será que hoje em dia ainda temos tantas cores e tanta liberdade de amizade e amor efêmero? Beleza, o capitalismo tá rolando na frente, e o meio ambiente continua sendo a desgraça que ninguém quer falar direito, né? Mas legal que eles pensaram nas pessoas cegas também, show de bola! Acho que eu vou lá só para ver a quantidade absurda de obras e pra tentar entender por que eu ainda não tenho um fusca, hein?football bros unblocked
Lulu
Que exposição bacanérrima Luly. Eu iria com certeza se estivesse em BH. Anos 80 foram mágicos.
Se você experimentar aquele creme esfoliante de maçã verde que eu resenhei no blog, me avise.
beijos
laser marking machine
Adorei a reportagem Luly! Que tal um tour virtual pela exposição com você mesmo? Pode usar a função Like para dar aquela visita rápida nas obras, né? E se quiser sentir mais a vibe, sugiro usar o aparelho de som alto e um pouco de glitter, mas só por dentro de casa. Os anos 80 foram, de fato, uma época de muitas cores, cores para todos os lados, principalmente nos looks das fotos do blogueiro! Ah, e não se esqueça de ler os textos das obras (imaginários, claro), eles contam tantas histórias!
deltarune prophecy
Adorei a resenha, Luly! Que tour de nostalgia nos Anos 80, né? Meus olhos arregalados só de ler sobre movimentos sociais e arte de protesto! Falando em arte, que tal uma exposição de como a TV mudou a vida? A gente compra cada coisa na loja, né? Eita, essa liberta sexual que você falou… parecia que mudava a cada capítulo de novela! Acho que o capitalismo tá certo, mas que tal um capítulo de chão firme pra relaxar? Ah, e a efemeridade… sempre bom lembrar que o tempo voa, principalmente pra pagar a conta! Se eu fosse em BH, claro que iria, essa exposição parece dar uma sacudida na memória de forma divertida!deltarune prophecy
Fernanda Rodrigues
Oi, Luly!
Eu vi o título e a minha cabeça já foi lá no Antônio Cícero e na Marina Lima, por consequência. hehehe
Amei fazer esse passeio virtual aqui com você.
Sobre isso de proibirem adolescentes de ver a nudez é muito mais implicância com a arte do que preocupação. Cabe a nós (artistas e educadoras) continuar resistindo.
Um beijo,
Fê