Democracia em Vertigem

Democracia em Vertigem

Democracia em Vertigem *****
Democracia em Vertigem Direção: Petra Costa
Gênero: Documentário
Duração: 113 min
Ano: 2019
Classificação: 12 anos
Sinopse: “Uma narrativa cautelosa em tempos de crise da democracia – o estopim pessoal e político para explorar um dos mais dramáticos períodos da história do Brasil. Combinando acesso exclusivo a líderes do passado e do presente (incluindo os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva) a relatos da biografia complexa de sua própria família, a diretora Petra Costa (Elena) testemunha a ascensão e a queda de políticos e o que restou do país, tragicamente polarizado.” Fonte: Filmow.

Comentários: Talvez essa seja a resenha mais ousada que já fiz nesse blog até hoje, o que de certa forma a torna também uma das mais importantes. Ela começou a ser escrita em junho de 2019, quando o documentário foi lançado na Netflix, confesso que precisei desse tempo todo pra dar a cara a tapa… Mas dei, isso é maior que o tempo. Não importa a opinião que eu publicar aqui e agora, já sei, é uma opinião impopular. E como tudo o que contém nesse blog, é pessoal, sincera e ACIMA DE TUDO com posição. Seja o que for que aconteça vai acontecer com meu pleno conhecimento de que JAMAIS fiquei em cima do muro.

“Somos uma república de famílias. Umas controlam a mídia, outras os bancos, elas possuem a areia, o cimento, a pedra e o ferro. De vez em quando, acontece de elas se cansarem da democracia, do Estado de direito. Como lidar com a vertigem de ser lançado em um futuro que parece tão sombrio como nosso passado mais obscuro? O que fazer quando a máscara da civilidade cai e o que se revela é uma imagem ainda mais assustadora de nós mesmos?” – Petra Costa

Democracia em Vertigem é um dos filmes indicados à categoria de Melhor Documentário de Longa Metragem no Oscar 2020, a maior premiação sobre cinema internacional do ano. Dirigido e narrado pela cineasta mineira Petra Costa, que através de sua visão intimista narra diversos acontecimentos na política nacional desde o primeiro mandato do presidente Lula, eleito em 2002, até o impeachment da Dilma oficializado em 2016, ressaltando causas e resultados desse marco da atual crise político-econômica (e, adiciono, SOCIAL) instalada ainda hoje no Brasil. Ela usa cenas da própria vida, com seus relatos e de sua família, recortes gravados direto com os envolvidos na história e, claro, gravações divulgadas e vazadas pela mídia de um modo geral.

Democracia em Vertigem

“(…) a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus.” – Dilma Rousseff | Imagem via Aventuras na História

Apesar das opiniões polarizadas, resultado do cenário brasileiro que também tem essa característica no momento, uma coisa é incontestável no que diz respeito ao documentário: ele é 100% HONESTO. Petra não se propõe, em momento algum, a fazer uma narração neutra ou isenta desses acontecimentos tão contemporâneos da nossa república. Ela deixa bem claro, desde início, quem é, de onde veio, para onde foi seu voto e até mesmo o envolvimento de familiares no contexto. Diferente da tão comentada série “O Mecanismo”, lançada também pela Netflix como um ensaio sobre a Operação Lava Jato, as personagens não são fictícias representando pessoas reais: ela dá nome e rosto a cada um, expondo quem disse o que sem precisar mudar autoria das falas ou fatos. Relata sua história e a do seu país, se mantendo à esquerda, sim, mas sem esconder isso em nenhum minuto.

E nem deveria. A definição de documentário não exige que o trabalho seja imparcial (juízes, por outro lado, devem ser sim!) e eu, como expectadora, também não preciso ao afirmar que mais do que qualquer obra de ficção, esse filme me trouxe choro e angústia por lembrar cada acontecimento dos fatos mais tristes que vivi como cidadã brasileira desde que nasci (em 1990, para contextualiza-los). Lágrimas, porém, nem um pouco inéditas e sim repetição das que já haviam caído enquanto as coisas aconteciam, desde a primeira eleição da qual participei na vida e elegi nossa primeira mulher presidente até o fim, passando pelo golpe constitucional por ela sofrido chegando no agora, sua tão triste consequência que vem desmontando o Brasil no último ano. Lágrimas que sabem que enquanto de um lado a idolatria é movida pelo ódio e pela destruição, do outro ela é impulsionada pelo saber da diferença que foi feita na vida das pessoas que pensavam que essa diferença nunca ia chegar, mesmo que na época que estava acontecendo eu fosse nova (ou mesmo privilegiada) demais para entender a magnitude.

“Apesar das diferenças, sofro de novo com o sentimento de injustiça e o receio de que, mais uma vez, a democracia seja condenada junto comigo. E não tenho dúvida que, também desta vez, todos nós seremos julgados pela história.” – Dilma Rousseff

Democracia em Vertigem não é uma aventura ou fantasia, não apresenta mocinhos ou vilões. É feita de posicionamento. De fatos, sinceridade e dura realidade. Não tira a culpa no momento em que o partido é culpado, mas JAMAIS age com a desonestidade intelectual de afirmar que ele retém toda a culpa do mundo. Mostra, de perto e de frente, não só uma família de esquerda aos olhos de sua filha de microfone na mão, mas também as mais diversas pessoas que ela contactou para terminar seu trabalho, entre elas uma mulher que se recusou a recuar do cargo que era seu de direito por acreditar nele e, por isso, foi retirada. Mas, como dito pela própria, “a história será implacável com os que hoje se julgam vencedores”, e essa indicação para um prêmio tão importante talvez seja um dos passos. Minha torcida, acho que deixei claro, já tem!

Trailer:

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