Amanhecer na Colheita – Suzanne Collins

Amanhecer na Colheita – Suzanne Collins

Amanhecer na Colheita (Jogos Vorazes #5) (Sunrise on the Reaping)
Capa do livro Amanhecer na Colheita, roxa com título em branco na parte de cima e nome da autora na mesma cor na parte de baixo. A ilustração, ao centro, é uma imagem de um pingente de ouro onde uma cobra e um pássaro estão unidos por seus rabos, com bocas abertas, um de frente para o outro. Autora: Suzanne Collins
Gênero: Distopia
Ano: 2025
Número de páginas: 452 p.
Editora: Rocco
ISBN: B0D67BBNXX
Sinopse: “Quando você está fadado a perder tudo que ama, pelo que ainda vale a pena lutar?
Ao amanhecer do dia da colheita da Quinquagésima Edição dos Jogos Vorazes, o medo toma conta dos distritos de Panem. Nesse ano, em comemoração ao Massacre Quaternário, o dobro de tributos será levado de suas casas.
No Distrito 12, Haymitch Abernathy está tentando não pensar muito nas suas chances de ser sorteado – só quer sobreviver ao dia e passar um tempo com a garota que ama.
Mas, ao ser escolhido, todos os sonhos de Haymitch desmoronam. Ele é separado da família e da namorada e enviado para a Capital com outros três tributos do Distrito 12: uma menina que considera quase uma irmã, um rapaz viciado em calcular chances e apostas, e a garota mais arrogante da cidade.
Conforme os Jogos se aproximam, Haymitch compreende que está tudo armado para o seu fracasso, mas parte dele deseja lutar… e deseja também que essa luta reverbere muito além da arena mortal.”
(fonte)

Comentários: “Com isso, ela me condena à vida.” – e, meus amores, que nada mole vida… O mentor de Katniss Everdeen, apresentado na trilogia Jogos Vorazes, um dia foi também um tributo campeão de “reality show” tão sinistro. Dentro daqueles primeiros livros, somos apresentados a Haymitch como um homem de 40 anos, alcoólatra, que de início não sabemos até que ponto podemos confiar até, inevitavelmente, passar a vê-lo como um dos maiores aliados da Garota em Chamas. Sabemos também sua história de vida, mas não é mais suficiente, para entender o personagem e situações que se desenrolaram tanto tempo depois, é preciso voltar e conhecer sua versão adolescente, um garoto de 16 anos que foi praticamente condenado à morte num programa de TV que controla essa nação distópica.

Foto do livro Amanhecer na Colheita nos mesmos moldes da foto de capa, agora visto exatamente de cima, com a capa reta. Atrás do mesmo, entre ele e o fundo preto, há um outro livro, amarelo, onde as jujubas vermelhas estão espalhadas.

Quando li A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, achei que não conheceria nenhuma versão de Panem mais incômoda do que aquela tão arcaica, mas Suzanne Collins consegue se superar. E se é afirmado em um momento dessa série que “existem Jogos piores”, com certeza essa 50ª edição dos Jogos Vorazes faz justiça ao título. O segundo Massacre Quaternário, edição especial que acontece a cada 25 anos do programa, levou à arena o dobro de tributos, dois meninos e duas meninas de cada um dos 12 Distritos. Sendo assim, 48 adolescentes foram sorteados para lutar até a morte para entretenimento dos moradores da Capital, e o jovem Abernathy, numa grande virada de azar, acaba sendo um deles. Nesse momento, o evento ainda tem características rústicas que são apresentadas na 10ª edição, mas já caminha para o glamour doentio que vimos na 74ª (e, claro, 75ª).

“Eu sou um brinquedinho da Capital. Eles vão me usar como entretenimento próprio e depois vão me matar, e a verdade não vai ter papel algum nessa história.”

Haymitch, enquanto protagonista, é extremamente bem trabalhado! Achei bem louco ver pessoas falando pelas redes sociais afora que rolou uma diferença muito grande do que conhecemos lá atrás (ou seria lá na frente?), para mim a construção foi, mais uma vez, impecável por aqui! Como um bom canceriano, nascido em quatro de julho, ele é sentimental, apegado e dramático, um adolescente super voltado pra família, responsabilidades e, é claro, “sua garota”, Lenore Dove. Apaixonadinho que só ele! É gostoso como leitora e autora de enredos românticos poder apreciar isso porque, até então, não tivemos esse nível de relacionamento nos astros desse universo, mesmo que eles estivessem sempre lá… Chega a ser cômico como ele veste uma imagem de “malandro”, do cara que não está nem aí, como estratégia de jogo, enquanto é um poço de sensibilidade tão profundo que define tudo o que se torna no futuro.

ova foto do livro no mesmo cenário, dessa vez em close na ilustração , sendo possível visualizar apenas a tampa da garrafa, três jujuba e o fundo amarelo do livro que se encontra em baixo além dele.

Uma das características mais incríveis desse universo, que está no protagonista e em todas as personagens que já conhecemos em outros livros, é como ele traz o fan service de maneira inteligente e muito pertinente, sem forçar a barra em nenhuma aparição. Começando pelos vitoriosos que foram apresentados no 3º massacre, passando por sobrenomes MUITO conhecidos como Trinket e Heavensbee, essas versões jovens plantam sementes que, quando germinam, viram o auge (e a queda) de um verdadeiro espetáculo da morte cujo arquiteto principal, é claro, é figura presente. Snow está cada vez mais perto dos holofotes, ecoando com vigor já envolto no ar de sarcasmo glacial que a gente conhece tão bem. O sangue dos distritos de Panem mancham cada vez mais seus sapatos e os cantos da boca venenosa, e faz necessário ler essa saga na ordem de lançamento, e não cronológica, para que sua existência faça sentido.

“Algo endurece dentro de mim e eu penso: Você está num pedestal, senhor. E um dia alguém vai derrubá-lo direto para o túmulo.

Apesar de seguir essa ordem ajudar a doer tanto, são os nomes novos que mais rasgam a gente por dentro. Os 50º Jogos Vorazes apresentam tributos que mereciam uma saga só deles, em especial “os Aliados”, cujas vidas ecoam abandono, perda, resistência e, ai, vínculos profundos. De volta ao Distrito 12, conhecer a família e amigos de Haymitch é lindo e triste, dá rosto a imagens que já faziam parte da narrativa, as coloca no nosso coração sabendo como irão morrer, assim como os membros do Bando, grupo cuja arte e costumes são fortes desde o primeiro livro e nos leva ao nome que mais move os acontecimentos aqui: Lenore Dove! A namorada é o coração do livro, amor em meio à barbárie e, de certa forma, motivo pelo qual jamais conseguiu sair da arena, mesmo depois de vencê-la (mais de uma vez).

Livro aberto em página onde há um trecho de O Corvo, de Edgar Allan Poe, onde cita a personagem Lenore Dove. As jujubas e garrafa estão por cima do mesmo, em volta da citação.

Suzanne Collins pode até ter escrito seus prelúdios em torno de protagonistas masculinos, mas a verdade que salta das entrelinhas é que essas histórias brilham é com mulheres que eles permitiram que dominassem suas vidas. Lucy Gray e Lenore Dove são figuras centrais não só por seus romances, mas por representarem coragem, sensibilidade e espírito em meio ao caos. Desafiam as regras com música, compaixão e beleza, e tornam-se ameaças para uma organização que lucra com o silêncio e a submissão. E é aí que tudo se conecta com Katniss, herdeira simbólica de ambas, que carrega em si o que o sistema tentou apagar antes de nascer. Enquanto fingem ser sobre a ascensão ou a queda de homens poderosos, os livros são sobre garotas que ousaram viver intensamente mesmo sabendo que seriam esmagadas. E, se falam delas, então falam acima de tudo de sua revolução!

Leia também: Desafio Hunger Games, com minhas opiniões sobre a trilogia original na época que a li.

É curioso como podemos começar esse livro já sabendo de tudo — quem, como, quando e onde vence e morre — e, ainda assim, sermos destruídos por ele. Amanhecer na Colheita é uma dessas leituras sem spoilers, que não depende da surpresa, mas da angústia da inevitabilidade do que já sabemos. A força está justamente na entrega emocional, na escrita cortante, na forma como nos lembra que mesmo quando tudo parece pré-determinado, ainda há humanidade e escolha. Com isso, a expectativa pro filme que estreia em novembro de 2026 só aumenta! O elenco ainda está em seleção, mas a promessa já é eletrizante. Depois de tudo o que sentimos nas páginas, é impossível não ter sentimentos masoquistas de reviver tudo, dessa vez com o apelo visual. Estou MUITO curiosa em relação à música dos créditos finais, que foi um acerto em todos os anteriores e sem sombra de dúvidas será nesse!

Folha de rosto cinza escuro, contendo nome da autora, título, editora e tradução. Ao sue lado, um marcador roxo e metalizado temático do livro.

A estadunidense Suzanne Collins tem 62 anos e nasceu em Hartford. Depois de se formar em Teatro e Telecomunicações em Indiana, trabalhou como roteirista em programas infantis da Nickelodeon, até lançar “Jogos Vorazes” em 2008, seguido de “Em Chamas” em 2009, “A Esperança” em 2010 e retomar a esse universo tão premiado e aclamado em 2020 com “A Cantigas dos Pássaros e das Serpentes”. Os livros foram que foram adaptados para o cinema entre 2012 e 2023 com Jennifer Lawrence no papel de Katniss e Woody Harrelson interpretando Haymitch. Ela chegou a publicar outros livros não relacionados à saga nesse meio tempo, alguns deles disponíveis no Brasil. É possível conhecer sua obra mais afundo no site oficial, suzannecollinsbooks.com (em inglês).

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  • Daninha

    É incrível como essa saga só consegue se melhorar com o tempo. E esse livro é o mais brutal, eu acho. Porque sabemos o antes e o depois, mas isso não muda o horror que aconteceu. É como se fosse o auge do terror, não sei explicar.
    Os novos personagens são fantásticos, os velhos mais ainda. Profundidade completa em tudo, eu amei cada linha. E li em menos de 24h de tão bom

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  • lulu

    Que livro interessante. Eu gosto muito da saga de Jogos Vorazes, valeu a indicação.
    beijos

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  • Andria

    Este foi o quarto artigo que acabei de ser relacionado a esse tem e foi o que mais deixou claro para mim. Gostei. jogo

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  • Ane

    Luly sua resenha me deixou com ainda mais vontade de ler este livro. Estou quase finalizando a leitura de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, e cada vez mais encantada com a genialidade da escrita da Suzanne Collins em conseguir nos surpreender com histórias em que a gente já sabe como vai terminar.

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