Em situações normais, fora desse contexto da pandemia, eu sou super a amiga de ir ao museu. Posso ser a de balada (bem pouquinho), a de cinema, de ficar á toa, de várias coisas, mas a de museu acho que é um papel que desempenho melhor. Eu AMO ir a museus, gosto de ver arte, produzo conteúdo sobre… Chego lá com informações sobre o teor da exposição, observando como cada obra foi colocada, faço meus registros em foto e vídeo sem deixar de apreciar o que tô vendo. Fora que, no que diz respeito ao conhecimento formal, entendo do assunto, então posso ser fonte de informação, mas sem ser a chatona que transforma o rolê em palestra, sei brincar e sei falar sério, simultaneamente. Cara, que saudades de PODER receber um convite desses…
Estudar determinado assunto não te isenta de desgostar de algo dentro dele, claro, mas ajuda bastante a enxergar com olhar menos tendencioso. Eu sei que qualquer coisa que tem a intenção (ou às vezes nem isso!) de ser uma manifestação artística tem seu valor, sabe? É LÓGICO que existe algo aqui ou ali que pessoalmente acho “feio” (cofcofRomeroBrittocof), mas é muito raro, de verdade, porque o que existe por trás daquela peça tem uma carga tão maior pra mim, em mil sentidos, que não consigo deixar de ver beleza, esteticamente falando, mesmo, nela. E, no meu papel de companhia de quem não compartilha dessa visão, acabo ouvindo coisas que vão além da preferência estética e não dá pra deixar de rebater: o questionar se algumas coisas são arte de fato ou a afirmação de que aquilo é tão insignificante que qualquer pessoa poderia ter feito.
E assim, rebato!
“Mas… Isso é arte?”
Sim, isso é arte! Você gostando ou não, é arte. Na verdade, dependendo de quem é você e de qual é a arte, ela foi feita pra você não gostar. E ainda assim é arte.
O conceito de arte por si só é variável e muda constantemente conforme muda a sociedade, sendo um reflexo da mesma. Pode ser expressão e decoração, quando se pensa nela de forma imediata, mas também emoção, ciência, registro histórico, percepção e até manifestação acidental. Um utensílio de cozinha, algo que foi corriqueiro na vida de sociedade X o Y, de repente pode estar no museu sendo exaltado dessa forma. E, ao mesmo tempo, existem as manifestações artísticas propositais que não seguem o que se muitas pessoas entendem como “arte”, baseando-se num modelo clássico e padrões de beleza que estão há muito obsoletos e ignoram a subjetividade da própria ideia da beleza. A humanidade mudou desde Botticelli, o ideal do belo vem se tornando cada vez mais amplo e o modo de produzir todos os tipos de artes se transformam também. Ainda bem!
Por exemplo, a pintura-retrato que expressa o que o artista vê (ou uma versão idealizada disso) era a maneira encontrada de deixar sua marca fisicamente para gerações posteriores e mais tarde, com a popularização da fotografia, passamos a ter outro jeito de fazer isso. É natural que o conceito venha se sobressaindo ao visual e, principalmente, ao que soa como “real” na nossa mente. Além disso, esses conceitos e questionamentos sempre estiveram presentes na arte, não só na contemporânea como muitos acreditam. Ao estudar sua história percebemos que um movimento artístico contesta o que estava em alta antes dele, trazendo novas reflexões àqueles que se expressavam através dela e, com sorte, aos que consumiam. Apesar de existir uma quebra maior à medida que o final da era moderna foi se aproximando, sempre esteve presente e sempre incomodava aqueles que se recusavam a evoluir.
Não é como esses que queremos ser, né?
“Ah, isso aí até eu faço!”
Bom… Então faz! Se é assim vai lá e faz!
Veja bem, é claro que na vida o conhecimento e as oportunidades dependem de DIVERSOS fatores que precisam ser levados em conta… A infinidade de privilégios que podem determinar o destino de alguém não pode ser ignorada, né? Mas, ainda assim, uma coisa que não deixa de ser verdade é que a produção artística de alguém NUNCA depende apenas de “talento”. Na verdade o que as pessoas chamam de talento é resultado de muito estudo, esforço, investimento, horas e horas se dedicando à atividade em questão. Aptidões mais voltadas para uma área que pra outra? É, temos. Mas não em definitivo. Habilidade e criatividade são coisas que podem ser ensinadas e aprendidas. Acima de tudo elas podem ser treinadas diariamente, de hora em hora, sem parar, resultando, é claro, num produto cada vez mais satisfatório. Ou, pelo menos, assim a gente espera.
Sendo assim, é claro que QUALQUER produção artística poderia, de fato, ser feita por QUALQUER um de nós. Eu acredito nisso. Porém elas são feitas pelas pessoas que, seja por aptidão, oportunidade e/ou esforço absurdo, fizeram. Então não é nada legal menosprezar o trabalho de alguém falando que você, um leigo no assunto, dá conta de fazer igual. Você não fez e, mesmo se fizer, NÃO VAI SER IGUAL! A história que vai existir por trás de um ou de outro vai ser diferente, simples assim. Qualquer um poderia ter pintado O Grito de Edvard Munch ou conduzir as pesquisas sobre radioatividade de Marie Curie, mas não foi esse “qualquer um” que o fez. Foram eles, e você tem direito TOTAL de gostar ou discordar da qualidade desses trabalhos. Mas o trabalho é deles, e fim!
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Por fim, vou fechar com a fala de uma das personagens que mais gosto na vida, a professora Katherine Watson de “O Sorriso de Mona Lisa”, que foi muito importante nessa minha trajetória como arte-educadora nos últimos anos (e sobre a qual quero escrever um post inteirinho, ainda). Em determinada cena em que suas alunas desdenham de Jackson Pollock ela diz: “Façam-me um favor. Façam um favor a vocês mesmas. Parem de falar e olhem. Vocês não precisam escrever um artigo. Vocês nem precisam gostar. Vocês PRECISAM, porém, considera-la.” Recomendo que apliquem em todo o tipo de arte visual que forem consumir, cada vez mais!
