A não dita tradição

A não dita tradição

Era pra ter vídeo hoje, mas nessa vida nem tudo o que a gente planeja acontece, então ficaremos apenas com palavras por enquanto, que são mais do que o suficiente.

Meu pai tinha uma caneta tinteiro. Meu avô e bisavô também tinham antes dele, todas eram Parker e ficavam na gaveta do armário da minha casa. Eu amava aquelas canetas. Não sabia se podia, mas sempre que achava uma delas (provavelmente a do meu pai, que é mais nova) usava até acabar a tinta. Ele sabia disso. Se a caneta não estava onde deveria já sabia que estava comigo. Uma vez ele teve que sair pra comprar tinta e me levou junto, porque sabia que eu ia gostar. Inclusive fui eu quem indicou uma loja onde ele provavelmente acharia essa tinta, e foi onde achou mesmo.

No natal de 2007 eu tinha acabado de passar no meu primeiro vestibular, ainda estava prestando outros, e era o primeiro desde que ele já não morava mais com a gente. Ele foi a uma loja comprar nossos presentes, pensando em dar algo realmente significativo que simbolizasse que sua filha de 17 anos estava dando o primeiro passo para virar adulta, e então resolveu seguir essa não dita tradição de família. Entrou na mesma super papelaria onde um dia eu havia indicado que ele encontraria tinta para escolher MINHA Parker, mas enquanto a moça o atendia ele viu uma linha de outra marca, Sheaffer, que estava no balcão. Apontou para uma delas, “É aquela ali que ela vai querer”.

Eu abri o pacote sem nem imaginar o que era, mas entendi no momento que abri a caixa dourada: minha primeira caneta tinteiro. E mesmo se não tivesse sido entregue a mim diretamente eu sabia que era minha. A estrutura de metal era simples, com os detalhes prateados, o nome da marca gravado na alça da tampa. E ela era cor de rosa. Nem muito claro, nem muito escuro: era rosa e ponto! “Tive que comprar essa, é a primeira caneta tinteiro ‘patty’ do mundo!”, foram as exatas palavras que ouvi dele quando peguei nela pela primeira vez. Abri e a pena também era prateada, limpinha, esperando ansiosamente para ser usada pela primeira vez.

Ela estava comigo quando assinei minha primeira lista de chamada dois meses depois. E meu primeiro cheque, o verso do meu primeiro cartão de banco, incontáveis anotações em sala de aula nos cinco anos que passei na UFMG. Eu era a garotinha que andava com um potinho de tinta azul na mochila, tendo que parar de escrever no meio da aula para reabastecer e chamando atenção do colega mais próximo. “Que elegante essa menina!” E quando as aulas práticas começaram e eu tinha que usar jaleco lá estava ela no meu bolso, em todos os momentos. Podia ser que nem fosse necessária, mas estava ali, e ainda está, seja no porta canetas em cima da estante ou dentro de qualquer bolsa ou mochila que eu esteja usando, meu eterno material favorito na hora de escrever, mais querida até que o teclado que é o que eu uso, hoje, para transformar qualquer ideia que tenho em palavras…

Creative Writing Prompts 01

Esse post foi inspirado na ideia #01 proposta pelo Creative Writing Prompts, que oferece mais de trezentas ideias legais para desenvolver sua escrita criativa. É o entre os 25 que me propus a escrever até outubro de 2018!

Maresia

Maresia

ler artigo

Impressionantes negligenciadas: uma crônica de Dia das Artes

ler artigo
Um ano depois…

Um ano depois…

ler artigo

Comente este post!

  • Simone

    Não teve vídeo, mas não deixou a desejar, amei o texto. Adoro essas coisas de pai para filhos, meu pai me entregou um relógio que ele comprou quando tinha 18 anos do primeiro salário, do primeiro emprego. E hoje meu pai tem 101 anos <3
    Beijos
    http://www.charme-se.com/

    responder
  • Adriel Christian

    oi, oi.

    eu tbm sempre adorei as canetas do meu pai, a diferença é que ele não usa essas de tinteiro, mas aquelas chics caríssimas, que quando acaba a tinta a solução é comprar uma nova. =/ meu pai ficava puto quando procurava as canetas-ostentação dele e não encontrava… sdds dessa época, inclusive. hahaha!

    tava aqui te imaginando recarregando a tinta da caneta na sala de aula… geral deve ter te olhado com cara de “meldels, quem é essa anormal?”. mas, o importante é ser feliz, né?! sei que tu já deve ter passado bons momentos ao lado da caneta, que à propósito é linda! <3

    bjs!
    Não me venha com desculpas

    responder
    • Luly

      Na minha turma de faculdade a maioria do pessoal era um pouco mais velho, quase todos já com uma (ou duas) graduações, eu era a caçulinha-baby deles, então eles gostavam MUITO e alguns me pediam para ver “como era” a recarga, achavam bacana de verdade (ainda mais por ser rosa)!

      responder
  • Daniel Netto

    EI Luly!! Amei o post, o texto… TUDO! Sério, me passou uma sensação boa apesar de nunca ter tido uma caneta tinteiro ou tradições de famílias!
    Abraços,
    Daniel.

    responder
  • Camila Faria

    Que coisa linda esse texto Luly, fiquei até emocionada aqui. Essas tradições familiares ~ mesmo as não ditas ~ são tão bonitas e nos acompanham em tantos momentos importantes da vida, né?

    responder
  • Carol R.

    Que história linda, me fez me lembrar meu pai que também amava uma tinteiro
    bjs

    responder
  • Cris

    Que legal 😀 Só usei esse tipo de caneta quando fiz um curso de desenho, eu ficava louca para usar, mas minha professora não deixava muito hahahaha E realmente, ela é a sua cara rs
    Beijos! =**

    responder
  • Vanessa

    Sabe que eu sempre sonhei em ter uma caneta dessas? É muito chique, principalmente com esse cabo rosa rsss nunca tinha visto!!!! Só não sei quanto tempo eu demoraria para utilizá-la com perfeição!

    ?Blog: http://www.amigadelicada.com

    responder
  • Beatriz Dias

    Que história linda, eu AMO caneta tinteiro, se pudesse só usava dessas, mas são caras 🙁
    A sua é muuuito linda!
    Beijos

    responder
  • Taís

    Ahhh que legal! Pros outros pode ser só mais uma caneta, mas pra vc tem todo um sentimento e uma historia linda por trás <3 Adorei!
    🙂

    responder
  • Natz Sodré

    Que história mais linda, e que caneta mais elegante, nunca tive uma dessas, achei linda! Beijokas 🙂

    responder
  • Thami Sgalbiero

    Meu avô tinha uma e recentemente meu pai tinha ganhado uma também. Eu nunca tive, mas imagino que a letra deve ficar incrivelmente linda com ela. Qualquer dia desses, faz um post com fotos de coisas que você escreveu com essa caneta? Queria ver!!!

    responder
    • Luly

      Thami, minha letra é MUITO feia com qualquer caneta, admito, o gosto por elas não mudou isso! Mas ainda assim vou fazer o post sim, acho que seria uma “continuação” legal, quem sabe em algum 6 on 6?

      responder
  • Jeh Asato

    Oi Luly!
    Nossa, que texto delicioso de ler. Parecia que estava lendo o prólogo de uma grande história contada em um livro. Fiquei esperando por mais, acredita? Obrigada por essa sensação maravilhosa. Você já mostrou esse texto pro seu pai? Tenho certeza que ele vai amar!
    Beijos!

    responder
    • Luly

      Acredita que não mostrei? Cheguei a comentar que escrevi “sobre canetas”, mas não exatamente o que… Eu amo escrever e todo mundo sabe que escrevo, mas nunca envio nada para minha família, eles só leem o que cai acidentalmente na timeline deles, hahaha!
      Mas acho que vou acabar mostrando, sim!

      responder
  • Lívia

    Eu tbm exclamaria o quão elegante você é se te visse usar essa caneta linda na aula <3
    Gostei muito do seu texto e o que ele deve representar pra você. Pequenas tradições de família mexem com meu coraçãozinho, não tem jeito.
    E, ó, fiquei com gostinho de quero mais quando o post acabou…
    Um beijo, Luly.

    responder
  • Juliana

    Que história linda <3 Que carinho e que bonito a tradição continuar com você. Nunca tive e nem nunca vi pessoalmente uma caneta dessas, é muito linda e realmente elegante!! Parabéns 🙂

    Beijos!

    responder
  • Grazy Bernardino

    Muito linda a história Luly! São pequenos gestos que nos permitem grandes e eternas lembranças. A caneta é linda! ??

    responder
  • Thaiane e Thalita

    Gostamos do texto, algo que passa de pai pra filhos é uma bonita tradição. A caneta é linda, deve ser bem diferente usa-la.

    Beijos

    http://www.onlyinspirations.blogspot.com.br/

    responder
  • Gaby

    Olá Luly, tudo bem?
    Amei a sua história, senti como se estivesse lendo a um livro. Tradições de família são muito bonitas, infelizmente nunca tive isso. A sua caneta é linda e se eu a visse em suas mãos numa aula qualquer, diria que é uma aluna bastante sofisticada e com ótimo bom gosto.
    Caso desejar, depois mostre à gente algumas coisas escritas com ela. Fiquei bastante curiosa para ver.
    Beijos :*

    responder
    • Luly

      Ei, Gaby!
      Olha, minha letra é bem feia, mas agora que foi sugerido tô pensando em postar algumas fotos do que escrevo com ela sim, viu? Eu aviso!

      responder
  • Leslie

    Achei seu blog por acaso enquanto eu estava visitando outros cantinhos. Fiquei sem palavras pra explicar como eu amei seu texto, sua história. Acredito que sem exagero esse tenha sido um dos melhores textos que já li na blogosfera.
    Eu não tenho nenhuma tradição de família mas eu e meu marido queremos começar uma. No dia em que meu marido me pediu em namoro, ele dividiu um pingente de coração em dois, não usamos aliança durante o namoro, mas sim um colar, cada um com uma parte do coração. Também, no dia do nosso casamento, eu presenteei meu marido com um relógio de bolso, ele se casou com o relógio e era um sonho dele, desde criança, que ele pudesse ter um relógio de bolso. Nós queremos passar esses objetos pra frente quando tivermos filhos, e esperamos que eles sigam por várias gerações <3
    Gostei muito do blog.
    Beijos,Blog Apenas Leite e Pimenta ?
    Participe do Concurso Cultural!

    responder
    • Luly

      Nossa, Leslie, MUITO OBRIGADA! Você não faz ideia de como seu comentário me fez ficar sorrindo feliz aqui, fiquei emocionada mesmo porque escrevi esse texto sem muita pretensão, sabe? E ver essa repercussão positiva com tantos comentários positivos me deixou feliz demais!

      responder
  • Carol Mendes

    Eu nunca usei uma dessas. Também não tenho tradições como a da sua família.
    Achei bacana a sua história, acho que a maneira como contou… falando sobre algo simples transformando em algo poético.

    Virando Amor

    responder
  • Natália Biazzi

    Que amorzinho esse texto! Adoro quando vejo um texto que aborda o amor num contexto familiar. Achei muito bonita a caneta.
    beijos

    responder
  • Kézia Martins

    Nunca fui muito intima do meu pai, eu e ele somos muito fechados (acho que puxei isso dele hehe), mas adoreis eu texto, ele ficou muito lindo. Faz a gente refletir 😀
    http://b-uscandosonhos.blogspot.com.br/

    responder
  • Raphael Netto

    Ei Luly!
    Que texto maravilhoso!! Adorei!! Minha família nunca teve uma tradição, bom, não que eu saiba, se tivesse não foi passada para mim hahaha Mas lendo seu texto pude ter uma ideia de como é ter uma e me encantei, com certeza vou começar uma quando tiver filhos. E parecia que estava lendo o inicio de um livro, escreve mais!! hahaha
    Abraços!

    responder
  • Bianca

    Que legal essa tradição da sua família! Eu sempre quis ter uma caneta tinteiro, acho super elegante e a sua é um amor, nunca tinha visto uma rosa!
    Seu texto ficou lindo e cheio de sentimento, adorei!
    Beijos

    responder
  • Gabi Gouveia

    Luly, eu nunca conheci alguém que usasse a caneta tinteiro….ACHO TÃO INCRÍVEL. Onde será que acho para comprar? Seu texto me fez até abrir um sorriso de canto, parece que senti o que vc estava sentindo ao escreve-lo

    Beijos, Gabi

    responder
    • Luly

      Meu pai comprou a minha na Papel Picado, uma papelaria dessas grandes, sabe, de shopping… Mas elas são vendidas também em grandes livrarias, lojas especializadas e nas lojas das próprias marcas no caso de marcas mais caras como a Montblanc – meu sonho, haha!

      responder
  • Bianca

    Oi de novo! Acabei me esquecendo de avisar que te indiquei ao prêmio dardos http://bluebellbee.blogspot.com.br/2016/02/premio-dardos.html
    beijos

    responder
  • Beca

    Essa caneta é muito amor! Lembro quando você a ganhou! E lembro com detalhes, inclusive na foto do seu perfil você estava loira e usava um óculo rosa lindo! haha Deve ser uma delícia escrever à tinta, a única experiência que eu tive foi pena nanquim… Mas certamente não é a mesma coisa. A caligrafia deve ficar linda <3

    Esse texto foi uma delícia. Espero que você passe essa tradição para frente quando tiver seus filhos, porque vale muito à pena <3

    Aqui em casa também temos algumas tradições não ditas como a da ultima boneca de uma menina ser sempre aos 14 anos. Foi assim com minha mãe, depois comigo e mais tarde com minha irmã. Tenho minha última boenca até hoje, uma barbie casual. <2 Essa é uma das coisas que quero fazer por meus filhos, tentar dar à eles o máximo de tempo para brincar o possível!

    Beijinhos

    responder
    • Luly

      Ai, eu amava aqueles óculos!! Um dia guardei na mochila num porta óculos de pano e não foi o suficiente para proteger e eles quebraram =( Nunca mais achei óculos de Sol que gostasse tanto, hahaha!!!

      responder
  • Lorraine Faria

    Estou APAIXONADA na sua história! Sério! Acho lindo lindo essas tradições, por mais simples que sejam. De certa forma a gente acaba carregando a história da nossa família e isso tem um peso tão grande! Beeijo :*

    responder
  • Carol

    Lindo texto, amei!
    Nunca usei caneta tinteiro mas sempre que vou ao médico e ele usa uma fico de olho, acho linda!
    Beijos
    BlogCarolNM
    FanPage

    responder
  • Clayci

    Que lindo Luly!
    A história é linda e achei fofa a atitude do seu pai *_*
    Melhor presente

    responder
  • Bela

    Eu fico planejando tradições que eu gostaria de ter para minha família, já que não restam muitas. Amei conhecer um pouco mais da sua história <3
    Escreva muito, Luly!

    responder